quarta-feira, 15 de outubro de 2008
IBGE - Nova dinâmica da rede urbana brasileira
Abaixo um pequeno trecho:
Existem no país doze grandes redes de influência, que interligam até mesmo municípios situados em diferentes estados. A rede centralizada por São Paulo, por exemplo, também abrange parte de Minas Gerais, do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre. O Rio de Janeiro tem projeção no próprio estado, no Espírito Santo, no sul da Bahia, e na Zona da Mata mineira.
A rede de Brasília influi no oeste da Bahia, em alguns municípios de Goiás e no noroeste de Minas Gerais. As outras nove redes de influência são centralizadas por Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Goiânia, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
Foram analisadas informações fornecidas pela rede de agências do IBGE sobre 4.625 municípios, e registros administrativos do próprio instituto, de órgãos estatais e empresas. A atual configuração da rede urbana brasileira é comparada com estudos feitos pelo IBGE em 1972, 1987 e 2000.
Entre os diversos dados comparativos coletados a respeito das 12 redes de influência, nota-se que, para fazer compras, a população brasileira se desloca cerca de 49 km, em média. Na rede de influência de Manaus, no entanto, essa distância é de 218 Km. Para freqüentar uma universidade, o deslocamento médio, em Mato Grosso é de 112 Km, contra 41 Km na rede de influência do Rio de Janeiro. Pacientes percorrem, em média no país, 108 km em busca de atendimento médico.
Leia aqui a íntegra da publicação do IBGE.
sexta-feira, 23 de maio de 2008
500 anos de resistência
Após quase 20 horas num avião monomotor, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, comandou um sobrevôo que resultou nas primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. As mulheres e suas crianças fugiram para a floresta em busca de proteção, enquanto os guerreiros da tribo se posicionaram e reagiram atirando flechas no avião.
Nas cabeceiras do Igarapé Xinane, afluentes da margem direita do rio Envira, conhecido nos mapas de geografia como Cachoeira, muito próximas ao paralelo 10º, no limite Brasil-Peru, foram fotografadas malocas de índios isolados. Ambas foram localizadas inicialmente, a partir dos recursos da ferramenta Google Earth.
As mulheres índias do grupo de isolados que foi fotografado usam saiote de algodão. Os homens usam uma cinta de algodão na qual amarram o pênis. Raspam o cabelo até a metade da cabeça, mas a cabeleira se estende até o meio das costas. Usam tiaras e aparecem pintados de urucum (vermelho). Chama a atenção o fato de que alguns poucos aparecem pintados de jenipapo, isto é, com os corpos pretos, mas sem arco e flecha.
Fartura
- Os roçados são enormes, todos plantados de macaxeira, milho, algodão, banana, cana, batata, mamão, urucu e possíveis outras variedades que não são detectáveis nas fotos. São seis malocas e podemos afirmar que desde o primeiro sobrevôo, ocorrido há vinte anos, estes índios ao menos dobraram a população. São eles que aparecem nas fotos, pintados, fortes, guerreiros e sadios, recebendo nosso avião invasor com flechas - assinala Meirelles.
O sertanista não esconde o entusiasmo após 20 anos de dedicação na proteção dos índios isolados, também conhecidos na região como "índios invisíveis", pois até então jamais tinham sido avistados ou fotografados.
Meirelles Júnior comemora o fato de que a população de índios isolados possivelmente está aumentando por dois motivos.
- O primeiro é a tranqüilidade que o trabalho de proteção proporciona. Por conta disso, a vida segue normal, com fartura, muita criança nascendo e ninguém sendo morto por invasores.
- O segundo, é lamentável, a expulsão de povos isolados de seus territórios pela frente de exploração ilegal de madeira em território peruano e a consequente migração deles para o território brasileiro. Sejam bem-vindos - saúda o sertanista.
Espero que divulgação das imagens sirva para sensibilizar a opinião pública, dentro e fora do país, da necessidade imperiosa de preservação ambiental e de proteção dos povos desconhecidos ou isolados que se recusam o contato com a civilização branca há mais de 500 anos - apela José Carlos dos Reis Meirelles.
Fonte: Portal Terra
"Big bug", o grande caos
"Big bug", o grande caos
CÁSSIO SCHUBSKY
As novas tecnologias nos fazem trabalhar sem parar. As (poucas) férias agora são contaminadas pelo vírus da conectividade permanente.
QUANDO HOUVE a virada do novo milênio, rondava entre nós, os conectados na internet, o medo do chamado bug.
Temia-se que os computadores entrassem numa espécie de catalepsia em rede, ocasionada por uma situação inusitada: os softwares não estariam programados para decodificar os dígitos do ano 2000. As máquinas como que parariam no tempo ou, pior, voltariam para trás, no fatídico 1º de janeiro de 00.
O risco era o de que a pane acarretasse reveses econômicos inestimáveis. Conjecturava-se que os bancos, coitados, sofreriam perdas medonhas – pela primeira vez! Parecia até sabotagem arquitetada por astutos hackers para promover, se não a redistribuição de renda, alguma perda econômica, que fosse, para os aquinhoados pelo destino (e pela herança).
Programadores acorreram de todos os lados, esbaforidos, para evitar o pior. E o pior não veio. Não veio?
Por outro lado, há muitos anos, contingentes expressivos de seres humanos vinham acalentando a perspectiva de que os avanços tecnológicos nos levariam a trabalhar menos: as máquinas nos serviriam, enquanto poderíamos despender o tempo extra resultante dessa servidão a nosso bel-prazer, para o lazer, em idílico "dolce far niente". O melhor da festa viria.
Veio?
É fácil perceber que, em termos de previsões, nossos futurólogos da tecnologia são um fiasco. Nem bug, nem "dolce far niente". O que veio – e parece que para ficar... – é uma espécie de "big bug", ou, na língua de Machado de Assis, o grande caos.
As novas tecnologias estão fazendo muitos de nós trabalharmos sem parar. Se as férias já eram poucas, muitas vezes resumidas a parcos dias nas festas de final de ano, agora, ainda por cima (por baixo, por trás e pelo lado), são contaminadas pelo vírus da conectividade permanente: celular, iPhone, computador portátil, enfim, o escambau, que fica ligado, piscando, vibrando, zunindo, para acabar com nosso sossego. Adeus, fim-de-semana, oh! saudosas noites de luar! (ou de céu cinzento, que fossem).
O que dizer, então, do famigerado e-mail? "Uma maravilha! Agiliza tudo! Facilita a comunicação entre as pessoas", dirão os incautos. Ora, além de não ter diminuído a jornada de trabalho, a tecnologia, por via do e-mail – para ficar apenas no nosso exemplo –, está fazendo com que trabalhemos mais horas. Muito mais!
Se alguém nos envia uma mensagem, antes de tudo, é preciso lê-la.
Muitas vezes, respondê-la. Fique-se um dia sem consultar a caixa de mensagens, e elas irão se acumulando como coelhos cibernéticos, com suas respostas, cópias e encaminhamentos para terceiros.
E as tão sonhadas horas extras para o lazer viram pó, ou melhor, viram bits, pois as ocuparemos, até o fim dos tempos, somadas a outras horas extras de mais trabalho, para responder os queridos e-mails, copiá-los e encaminhá-los. E, depois de tudo, talvez ainda sobre um tempinho para deletá-los ou deles fazermos "backup".
E, se não sobrar, estaremos, como dizer... bem arranjados, porque, ou nosso computador dará uma pane qualquer por excesso de informação acumulada, ou então, para evitar o "big bug" pessoal, teremos, fatalmente, de limpar as caixas de mensagens, de entrada e de saída, as lixeiras, a parafernália toda.
Já sei: já é possível deixar os e-mails em sites hospedeiros, com segurança e praticidade. Vai confiar...
Com tudo isso, o tempo tem se tornado um dos bens mais escassos de nossa era. Em outras palavras: já se foi o tempo em que se tinha tempo para discutir o tempo, digo, se dia de sol ou de chuva. Agora, basta um click de nada, a qualquer hora e em qualquer lugar, e todas as informações estarão disponíveis instantaneamente. O prazer da conversa e o esforço prazeroso da busca pela informação? Babau.
Já não bastasse o trânsito, que cresce maligno, invadindo as ruas e todas as conversas (falta de assunto, viu?!), surrupiando o nosso precioso tempo, agora estamos escravizados pela tirania do e-mail. De repente, todo mundo acorda de uma longa letargia para olhar o caos urbano, a imobilidade instalada. E alguém ainda comemora a possibilidade de não perder tempo no engarrafamento, porque existe celular com e-mail. Que maravilha...
Onde é que nós vamos parar? Difícil dizer. O fato é que já estamos parando... De minha parte, alheio ao famigerado boom da indústria automobilística, tenho andado cada vez mais a pé. E tenho andado também com uma saudade danada de minha maquininha de escrever, de seu suave tec-tec-tec... tec-tec-tec... Agora, para completar, vou pegar um punhado de papel vegetal pautado, para escrever, de próprio punho, longas cartas aos amigos, tudo com muito vagar, apoderando-me do tempo e de mim mesmo... Adeus, pressa. "Bye, bug"!
CÁSSIO SCHUBSKY, 42, formado em direito pela USP e em história pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é editor e historiador. Fonte: Folha de S. Paulo – 22/05/08
terça-feira, 20 de maio de 2008
Instabilidade sul-americana e o "diferencial" brasileiro
Olhados isoladamente, os países sul-americanos que, nos últimos anos, optaram por governos de esquerda aparentam estar mergulhados em meros conflitos locais entre progressistas e conservadores. Ao menos é assim que as mídias do continente os têm retratado, o que, à maioria das pessoas, parece produto de embates ideológicos naturais e históricos.
As próprias análises mais aprofundadas da mídia alternativa não explicam ou enveredam por hipóteses mais concretas sobre a origem dos problemas. O que parece que ela diz é que a origem de tudo seria a ideologia e, nesse contexto, as idiossincrasias norte-americanas.
Conhecendo a realidade dos países nossos vizinhos, porém, o que se pode deduzir é que o processo que ocorre em bloco na América do Sul deriva da desigualdade generalizada que, na América Latina, está entre as maiores do mundo, perdendo somente para a da África, onde castas se mantêm vivendo nababescamente às custas da miséria exacerbada da quase totalidade das populações. Nos países africanos, contudo, não há, como na América Latina, uma origem racial na desigualdade, com exceção da África do Sul.
As políticas redistributivas de alguns países sul-americanos, no entanto, têm sido combatidas com tentativas de desestabilização mais ou menos intensas, de acordo com a intensidade da disposição de cada governo de atacar essas desigualdades e, assim, contrariar os detentores locais da parte do leão das riquezas.
Em países como Argentina, Chile e Uruguai, três dos oito países sul-americanos que elegeram governos de esquerda, o processo de redução das desigualdades tem sido mais tranqüilo e a oposição da mídia, mais civilizada. Não se tem notícias de grandes crises políticas que tenham chegado perto de levar à deposição dos governos desses países, apesar de movimentos isolados como o do agronegócio argentino, ocorrido recentemente, mas que diminuiu de virulência, à diferença do que acontece em outros desses oito países, nos quais, em quatro, a situação é mais tensa, e no quinto restante, ainda é cedo para saber que rumo as coisas tomarão.
Esses cinco países restantes são Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai e Venezuela. Estes, dividem-se, de acordo com seus embates entre os governos de esquerda e as direitas locais, em três grupos.
Brasil e Equador integram o grupo dos países em que a situação é mais grave do que na Argentina, no Chile e no Uruguai, mas bem menos grave do que as situações do grupo mais crítico, composto por Bolívia e Venezuela, nos quais processos de ruptura institucional já tiveram ou estão tendo curso. E o Paraguai, obviamente, é o país de situação ainda indefinida, apesar de que é possível prever que essa situação irá se agravar. Afinal, a gravidade da concentração de renda, por lá, provavelmente só perde para a da Bolívia e a do... Brasil, o qual, aparentemente, tem uma situação política menos complicada do que a dos vizinhos.
Se eu disser, no entanto, que a gravidade da confrontação de classes - e é disso que se tratam, no fim das contas, os conflitos nos países citados - é maior no Brasil do que até numa Venezuela, em que tentativa de golpe de Estado foi desfechada há quatro anos, ou numa Bolívia, onde um processo separatista explosivo está em curso e pode se converter numa guerra civil se a direita local decidir, além de tentar montar um estado paralelo, montar um exército paralelo, dirão que estou por fora, mas se a análise se der com calma, poder-se-á ver um diferencial importantíssimo que faz do Brasil um país em que as instituições correm grave risco no caso de se tentar implementar um processo de redução da desigualdade mais efetivo e célere, como fizeram os países com situação política supostamente mais instável.
Nos países em que, supostamente, a confrontação político-ideológica é mais grave, ou seja, na Bolívia e na Venezuela, ou no Equador, onde o governo de esquerda tem problemas externos, com a fronteiriça Colômbia e com os EUA, mas goza de grande poder internamente, tendo praticamente destruído a oposição eleitoralmente na eleição de uma Assembléia Nacional Constituinte no ano passado, e muito mais na Argentina, no Chile e no Uruguai, onde a mídia ruge mais baixo e a elite se comporta melhor, até por conta das menores desigualdade e pobreza, bem, apesar de tudo isso os militares de todos esses países adotaram uma linha estritamente legalista.
Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa podem até ter oposição e mídia mais virulentas contra si, mas são apoiados incondicionalmente pelas forças armadas. No Chile, na Argentina e no Uruguai, aliás, os crimes das ditaduras dos anos 1960 e 1970 começam a ser punidos e os militares têm chegado até a fazer meas-culpas. E, no Paraguai, ainda não se sabe como eles se comportarão. O Brasil é o único desses países em que os militares ainda rugem e fazem coro com a direita.
Nos últimos anos (inclusive neste), os militares brasileiros têm feito desaforos para o governo. Recentemente, no caso dos conflitos na reserva indígena Raposa / Terra do Sol, as declarações de chefes militares chegaram a soar como ameaça ao governo do país. Hoje mesmo, os militares declararam que "não pretendem desempenhar o papel de guardas florestais" naquela região. Um absurdo, pois eles não têm a prerrogativa de dizer que missões pretendem ou não aceitar, pois a competência final sobre suas missões é, em última instância, do presidente da República, que, constitucionalmente, é o chefe supremo das Forças Armadas.
Como se não bastasse o fato de que os militares brasileiros, diferentemente do que acontece em qualquer dos outros países sul-americanos em que a esquerda chegou ao poder, permanecem sofrendo de comportamentos golpistas, temos ainda uma Suprema Corte de Justiça que vem sendo presidida por aliados políticos da oposição conservadora, gerando insegurança jurídica quanto a decisões que eventualmente viabilizem processos golpistas.
Por incrível que pareça, o diferencial brasileiro na instabilidade sul-americana é o de que neste país temos as condições mais "adequadas" para que um processo de ruptura institucional tenha curso, via, por exemplo, um golpe de Estado, que, novamente, seria desfechado pela direita contra um governo de esquerda sendo amparado pelos militares e pela mídia. Para que esse processo seja desencadeado, basta que, em vez de um conciliador como Lula, tenhamos um presidente de esquerda e de sangue mais quente, como, por exemplo, um Ciro Gomes.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
UFMG: inclusão para estudantes de escolas públicas e negros
sexta-feira, 16 de maio de 2008, às 9h43
O Conselho Universitário da UFMG aprovou nesta quinta-feira, 15 de maio, a adoção de mecanismo destinado a ampliar a inclusão de alunos egressos de escola pública. A medida prevê a atribuição de adicional de 10% na pontuação obtida, no vestibular, pelos candidatos que freqüentaram escola pública da 5ª série do ensino fundamental ao último ano do ensino médio.
O Conselho Universitário também aprovou o acréscimo de 5% na pontuação no vestibular para estudantes negros que tenham cursando os últimos sete anos de sua formação básica em escolas públicas.
Ainda de acordo com o texto aprovado, a vantagem dessa alternativa é que a universidade pode modular a diferença de desempenho no concurso entre os candidatos, para que eles sejam admitidos nos diversos cursos. Outro ponto relevante é que, como sugerem simulações baseadas nos resultados do concurso de 2006, a utilização do tipo de escola de origem como critério de diferenciação incluiria, necessariamente, entre os beneficiados, estudantes de renda familiar mais baixa e aqueles que se declaram negros.
Um exemplo é o curso de medicina, o mais concorrido nos últimos vestibulares. Dos aprovados, em 2006, 14% estudaram em escolas públicas. Se o bônus tivesse sido aplicado, a proporção seria de 38%.
(Assessoria de Imprensa da UFMG)
domingo, 20 de abril de 2008
América do Sul
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Brasil e o PIB Mundial
fonte: blog do Rudá Ricci
quinta-feira, 27 de março de 2008
Uma revolução silenciosa
O mais expressivo que vejo nisso é que esse salto, óbvio, ocorre das classe E e D para a C, uma ascensão social sem precedentes, em termos numéricos, na vida da nação brasileira. Esses bons frutos, como a própria pesquisa constatou, estão atrelados ao aumento do emprego, do crédito na praça, de menores preços para bens duráveis e, lógico, de programas sociais como o Bolsa Família que deixam milhares fora da linha da extrema pobreza.
Portanto, meus caros, vamos afastar de vez os pessimistas que falam em limitação do crédito, em refrear o consumo, aumentar os juros, cortar gastos sociais (que são investimentos) e têm pesadelo com a inflação. Essa mudança é apenas o começo. Temos um potencial econômico enorme e o cenário atual se mantém promissor mesmo diante da crise nos EUA. O próprio estudo aponta que “o bem-estar da sociedade brasileira passa por uma pequena revolução”, uma revolução silenciosa, mas representativa na busca por uma melhor distribuição de renda.
E, por medida de Justiça, vamos dar razão ao presidente Lula em uma de suas mais famosas frases, satirizada pela mídia: "nunca antes, na história deste país......" que eu completo destacando, houve um processo de inclusão social com a absorção de tantos milhões de pessoas.
fonte: http://www.zedirceu.com.br/
sexta-feira, 21 de março de 2008
Esquerda e direita
Artigo de ARIANO SUASSUNA, escritor paraibano, autor de "O Auto da Compadecida"
Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita.
Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila.
Como conseqüência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande "assembléia geral" da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.
De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos "Atos dos Apóstolos", com o de Euclydes da Cunha em "Os Sertões". Escreve o primeiro: "Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade". Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: "A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia" (isto é, para a comunidade).
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.
Publicado na Folha de São Paulo
O que é ser de Esquerda?
“O que é ser de esquerda? (...) hoje em dia, a mais aceita nos meios de intelectuais e acadêmicos é de que ‘esquerdistas’ são os partidários da melhoria das condições de vida da maioria da população, enquanto ‘direitistas’ são os partidários da conservação dos privilégios das elites tradicionais. No entanto, acredito que ser de ‘esquerda’ vai muinto além disso. Vai muito além de uma definição acadêmica que pode ser difinida numa roda de intelectuais. Para mim, ser de ‘esquerda’ é amor. Amor ao próximo, ao distante, ao que nunca viu. Vai muito além de usar a camiseta do Che Guevara, escutar Geraldo Vandré, deixar a barba crescer. Ser de ‘esquerda’ é um estado de espírito. È a inquietude, o sino que toca nos corações dos mais velhos aos mais jovens clamando por uma melhoria nas condições de vida dos oprimidos. Mas principalmente ser de ‘esquerda’ significa vontade. É dar tudo de si em cada tarefa que executa para o bem do próximo, é se dedicar de corpo e alma à libertação do spovos, é sempre se perguntar se está fazendo o suficiente. È entender que a nossa história precisa de heróis e sem pestanejar habilitar-se para o cargo. È entender que sua vida não tem sentido outro senão o de fazer desta Terra a pátria do homem...
Por Thiago Ávila, publicado na Revista Caros Amigos, ano XI, número 121, Abril de 2007.