sexta-feira, 27 de julho de 2007

Carta aberta a Lula

Publico, abaixo, carta que tenho a pretensão de que chegue ao presidente da República. Sei que entre as centenas e centenas de leitores deste blog há muitos petistas de carteirinha. Espero que algum - ou vários - deles faça chegar este texto ao presidente.

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Caro Lula,

não usarei mesuras para me dirigir a você porque não escrevo ao presidente da República e sim ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Sim, você está presidente, Lula, mas não nasceu presidente e não morrerá presidente, de maneira que decidi escrever àquele que em três anos e meio deixará o mais alto cargo público do país, caso não consigam abreviar seu mandato.

Não sei se você já leu alguma crônica política escrita por mim. Provavelmente leu. Escrevo há muitos anos em jornais, revistas e na internet. Mas se nunca me leu, quero relatar que venho apoiando seus projetos políticos desde 1989, apesar de nunca ter me partidarizado, de nunca ter me aproximado fisicamente de políticos de qualquer tendência.

Já comprei muita discussão acalorada para defender seus projetos políticos, Lula. Seus apoiadores na classe média, aliás, têm lutado com unhas e dentes desde a primeira vez que postulaste a Presidência da República. Debater, combater, discutir, enfrentar o verdadeiro bloqueio midiático a quem o apóia, nunca foi novidade para um eleitor de Lula, sobretudo sendo da classe média. E é por isso que lhe escrevo.

Você tem muito tempo à frente do executivo federal, Lula. Três anos e meio são uma eternidade. Entretanto, é um período de tempo muito grande para permanecer na defensiva. Você está fazendo o jogo de seus adversários. Veja o quanto o país deixou de realizar nos últimos meses. Quantas votações no Congresso, quantas medidas postergadas por conta da crise política que seus inimigos não deixam amainar. Você já perdeu sete meses.

Não adianta, Lula, você não será aceito pela elite do Leblon ou dos Jardins, e seus adversários querem que o país se lixe. Não haverá contemporização.

O problema não é só eleitoral. Tudo bem que a gritaria parta dos estratos superiores da pirâmide social e que, na hora do voto, esses setores ficarão reduzidos à sua real estatura num eleitorado de mais de cem milhões de pessoas. Contudo, a questão não é só eleitoral. Seu governo vem produzindo menos do que o necessário porque seus adversários estão "gostando do jogo".

Por mais correta que seja sua estratégia de atrair a simpatia do eleitorado no papel de vítima de uma elite cruel, preconceituosa, racista a mais não poder, a militância lulista - a organizada e a individual - precisa de ânimo, que só será produzido se você se dispuser a enfrentar a mídia.

Minha idéia é a de aumentar o volume da denúncia de que a grande mídia tornou-se braço do PSDB, do PFL, em resumo, de José Serra. Por mais que a mídia negue isso, quando essa crítica estiver sendo feita em bom volume e apontar cada ato de partidarismo de uma Globo, de uma Veja ou de uma Folha, as pessoas os notarão. Bastará dizer "veja como a mídia não noticia o buraco do Alckmin em São Paulo", que milhões de pessoas, em São Paulo e no resto do país, vão se dar conta de como aquele crime tucano vem sendo abafado. Dia desses, perguntei a um conhecido anti-Lula e tucano até a alma sobre o buraco do metrô e o sujeito perdeu o rebolado. Não sabia dizer por que o assunto desapareceu da mídia.

Você tem tantas armas à disposição, Lula, que não usá-las pode até ser muito bom como estratégia, mas está desanimando a militância. Essa militância está cansada de ser esbofeteada pela mídia e não ter como reagir, pois a mídia que esbofeteia é a mesma que censura.

Além disso, com o assunto partidarismo da grande mídia na ordem do dia, esta terá que ser mais comedida para não passar recibo. O resultado será imediato: terá que noticiar algum escândalo tucano, ainda que dos menorzinhos, para não corroborar as acusações de partidarismo. Esse contra-ataque também terá o condão de lhe dar um pouco mais de folga para governar, Lula.

Se você permanecer nessa estratégia, a mídia e a oposição farão o país perder quase quatro anos. Todos serão prejudicados. Menos, é claro, a elite dasluniana dos Jardins e do Leblon.

Reaja, Lula. Você tem muito apoio para isso. Não pense só em eleições. Pense naqueles que contam com seu governo, que o elegeram por maioria tão esmagadora em outubro do ano passado. Essa maioria silenciosa anseia por defender o voto que lhe deu, mas você precisa ajudar.
Eduardo Guimarães (edu.guim.blog.uol.com.br/)

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