terça-feira, 26 de junho de 2007

Banda larga em todas as escolas públicas

O ex-coordenador do NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos) e membro da comissão interministerial de inclusão digital, Oswaldo Oliva Neto, disse em entrevista ao Conversa Afiada nesta terça-feira, dia 26, que em cinco anos todas as escolas públicas devem ter internet banda larga.

“Hoje, mais de três mil municípios não têm acesso à internet e menos de 300 municípios possuem banda larga superior a dois megas”, disse Oliva Neto.

Para Oliva Neto, é preciso aumentar o acesso à banda larga no Brasil. “Há três, quatro anos atrás, se nós estivéssemos falando de 128 k, nós estaríamos satisfeitos. Hoje, dois megas já é insuficiente”, disse Oliva Neto.

domingo, 24 de junho de 2007

A imprensa anti-Lula

A revista Carta Capital que chega às bancas neste final de semana publica reportagem sobre uma pesquisa do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro) que mostra o comportamento da Folha, do Estadão, do Globo e do JB nas eleições presidenciais de 2006.
O blog do Paulo Henrique Amorim (conversa-afiada.ig.com.br) publica um gráfico (abaixo) e entrevista o cientista político do Iuperj e coordenador da pesquisa, Marcus Figueiredo onde ele diz que, em 2006, a maior parte da cobertura da mídia foi contra Lula porque ele “acabou dando certo como Presidente no campo econômico e social”. Segundo o professor Figueiredo, a cobertura da mídia em relação ao presidente Lula foi mais negativa em 2006 do que em 2002.

A pesquisa do professor Figueiredo mostra que o Globo e o Estadão são, numa mídia contra o Presidente Lula, os dois órgãos de imprensa mais anti-Lula. A pesquisa mostra que os editoriais e os colunistas são ainda mais anti-Lula do que o noticiário. O resultado desse sistemático anti-lulismo, segundo o professor Figueiredo, resultará na perda de credibilidade da grande mídia.

Veja o quadro abaixo (publicado na Carta Capital):




sábado, 23 de junho de 2007

Aos que vierem depois de nós




Aos que vierem depois de nós

Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.


Bertolt Brecht nasceu em Augsburg, Alemanha, em 1898. Em 1917 inicia o curso de medicina em Munique, mas logo é convocado pelo exército, indo trabalhar como enfermeiro em um hospital militar. Aquele que iria se tornar uma das mais importantes figuras do teatro do século XX, começa a escrever seus primeiros poemas e cedo se rebela contra os "falsos padrões" da arte e da vida burguesa, corroídas pela Primeira Guerra. Tal atitude se reflete já na sua primeira peça, o drama expressionista "Baal", de 1918. Colabora com os diretores Max Reinhardt e Erwin Piscator. Recebe, no fim dos anos 20, instruções marxistas do filósofo Karl Korsch. Em 1928, faz com Kurt Weill a "Ópera dos Três Vinténs". Com a ascensão de Hitler, deixa o país em 1933, e exila-se em países como a Dinamarca e Estados Unidos da América, onde sobrevive à custa de trabalhos para Hollywood. Faz da crítica ao nazismo e à guerra tema de obras como "Mãe coragem e seus filhos" (1939). Vítima da patrulha macartista, parte em 1947 para a Suíça — onde redige o "Pequeno Organon", suma de sua teoria teatral. Volta à Alemanha em 1948, onde funda, no ano seguinte, a companhia Berliner Ensemble. Morre em Berlim, em 1956.


O poema acima foi extraído do caderno "Mais!", jornal Folha de São Paulo - São Paulo (SP), edição de 07/07/2002, tendo sido traduzido pelo grande poeta brasileiro Manuel Bandeira. (http://www.releituras.com/)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

OMC: A CABEÇA DO COLONIZADO

. Os países ricos não querem que a melhor agricultura do mundo entre em seus mercados para beneficiar seus consumidores.
. A soja, o etanol, o suco de laranja, o frango, os suínos, a carne de boi etc, etc, etc do Brasil não podem entrar nos mercados europeu e americano.
. Se pudessem, haveria mais emprego e mais renda no campo brasileiro.
. Se pudessem, seria uma vitória de um princípio básico da economia liberal, uma vitória do livre comércio.
. Numa reunião em Podsdam, na Alemanha, o Brasil se levantou da mesa e foi embora porque os países ricos agem contra o interesse nacional brasileiro e o aumento do emprego e da renda do povo brasileiro.
. E a mídia conservadora (e golpista) prefere reproduzir o Presidente Bush e responsabilizar o Brasil pelo fracasso da reunião.
. Manchete do Estadão: “Países ricos culpam Brasil e índia por fracasso da OMC”.
. Manchete da Folha: “Bush e Europa culpam Brasil por fracasso em negociação comercial”.
. Ou seja, o Estadão e a Folha olham para o Brasil da perspectiva dos países ricos.
. É o que se chama de “cabeça de colonizado”. ( Paulo Henrique Amorim - conversa-afiada.ig.com.br )

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Chávez e a mídia oligárquica

Ao não renovar a concessão da RCTV, Chávez ganhou tempo. Mas o problema maior continua, permanente, que é a vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.

Bernardo Kucinski

Será mesmo que Chávez cometeu um erro de cálculo ao não renovar a concessão da RTCV, como diz o jornalista Teodoro Petkoff, na sua entrevista a Gilberto Maringoni, nesta Carta Maior? Pode ser. Mas sugiro que se inverta a questão. Que se discuta em primeiro lugar a vocação golpista da mídia latino-americana. E por que isso? Porque não é normal grandes jornais ou emissoras de tevê promoverem golpes para derrubar governos. Já as recaídas autoritárias de governantes fazem parte da normalidade política, mesmo na democracia. Kennedy, por exemplo, impediu o New York Times de revelar os preparativos de invasão de Cuba. Um Chávez mandão é o normal na esfera política. Uma mídia golpista é o patológico na esfera da comunicação jornalística. Essa é a aberração que nos cabe discutir. Essa é a nossa agenda. A mídia golpista prefere, é claro, a agenda “Chávez, o autoritário”.

A grande mídia já foi colaboracionista, como se viu na França durante a ocupação nazista, é quase sempre chauvinista em momentos de guerra, fechou os olhos a violações de direitos humanos por necessidades do imperialismo, como fez o New York Times com as atrocidades dos militares em El Salvador, e como faz a CNN agora no Iraque. Foi leniente com as ditaduras latino-americanas na época da Guerra Fria, mesmo as mais atrozes.A grande mídia levou Nixon à renúncia, no escândalo Watergate. Mas quem estava tramando um golpe ali era Nixon, e não a mídia. Nesse episódio, a mídia americana demonstrou uma notável vocação antigolpista, isso sim. Frustrou uma tentativa de golpe.

A grande mídia Ocidental não articula a derrubada de seus próprios governos, democraticamente eleitos. A grande imprensa Ocidental pode ser em geral conservadora e sem dúvida se constitui no grande mecanismo de domínio pela persuasão. Mas desempenha esse papel de modo contraditório, com altos e baixos, também informa bastante, é critica, e freqüentemente se rebela, passando a exercer uma função contra-hegemônica, como na cobertura da guerra do Vietnã.

Isso de golpe pela mídia só mesmo na América Latina. O conceito nem se aplica à mídia européia ou americana. Mas aconteceu no Chile, em 1973, no Brasil, em 1954, e na Venezuela de Chávez, além de tentativas mal-sucedidas, como o golpe da Globo contra Brizola na eleição para o governo do Rio de Janeiro, e os episódios “paragolpistas” da edição de debate Collor-Lula pela Globo na nossa primeira eleição direta para presidente depois da ditadura.

E por que a grande imprensa latino-americana é golpista? Porque é uma mídia de grandes famílias, originalmente os grandes proprietários de terras. Eles e seus sucessores dominam o aparelho de Estado, definem as políticas públicas, ora repartindo o poder com os bancos, ora com uma incipiente burguesia industrial, mas são sempre eles. Não por acaso, a maior bancada do Congresso Nacional é a bancada ruralista.

Essa elite nutre uma visão de mundo composta por três elementos principais: subserviência ao poder maior, que é o poder dos norte-americanos na região, como forma até mesmo de auto-proteção; 2) resistência a todo e qualquer projeto nacional; 3) desprezo pelo povo. Essa é a burguesia que nos coube na divisão do mundo promovida pelos Europeus durante a expansão mercantil e colonização do Novo Mundo. É a burguesia de uma economia dependente. Atavicamente antinacional e elitista.

Sua imprensa tem função muito mais ideológica do que informativa. Quando surge um governo com propostas de desenvolvimento autônomo e distribuição de renda, faz de tudo para derrubá-lo. Instala-se uma guerra. Primeiro tenta evitar que seja eleito. Daí o forte engajamento nas campanhas eleitorais contra os candidatos nacionalistas ou portadores de propostas transformadoras. Depois parte para o pau em conluio com militares golpistas. Foi assim com Getúlio, Allende. Até Juscelino, que deu um chega-pra-lá no FMI e tinha um projeto de país, foi bombardeado pela grande imprensa. O que ela quer são governos que privatizam, desnacionalizam, entregam, são entreguistas. Não por caso, combate ferozmente a política externa de Lula. Preferem a Alca. Chama isso de realismo político, mas é apenas subserviência. Necessidade de ser dependente. Tem pavor de projetos de autonomia nacional e mais ainda de propostas de unidade latino-americana. Nem o Mercosul engoliram.

Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de “populista”. Isso ficou muito claro na Revolução de 30. Mesmo no bojo dessa revolução que deveria marcar o fim da hegemonia agrário-exportadora, Getúlio aplicou a censura prévia, rígida e abrangente, sobre todos os meios de comunicação e produção artística e cultural, a ainda teve a precaução de cooptar a maior cadeia de rádio e de jornais da época, a dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Não foi o autoritarismo de Getúlio, assim como não é o de Chávez, que geram o antagonismo da mídia oligárquica. É o caráter nacional-desenvolvimentista de seus projetos políticos. Tanto é assim que, quando Getúlio voltou ao poder pelo voto, sofreu intenso bombardeio e, de novo, entendeu que o combate à mídia oligárquica era essencial á sua sobrevivência. Apenas mudou de tática. Estimulou Samuel Wainer a fundar a cadeia Última Hora. O fato é que a grande imprensa tem sido arma recorrente dos golpistas. Usa o pretexto principal da luta contra a corrupção, seduzindo com isso a classe média recalcada, mas seu verdadeiro objetivo tem sido sempre o de derrubar o estado nacional-desenvolvimentista.

Quando toda a região abandona o Consenso de Washington em busca de um novo modelo que alie desenvolvimento com redistribuição de renda, agora com o reforço da unidade continental, a vocação golpista da mídia latino-americana torna-se um dos problemas centrais da democracia.

Chávez deve ter feito esse diagnóstico. E partiu para a guerra. Com as armas que tinha, no contexto atual, dentro das regras do jogo. Dividiu a oligarquia da imprensa, cooptando Cisneros, dono do maior conglomerado de mídia e, não renovando a concessão da RCTV, como que sinalizou aos demais o que lhes pode acontecer se saíram da linha.

Resolveu o seu problema, ou talvez só tenha ganhado tempo. Nós continuamos com o problema maior, permanente, da vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.

Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000). Carta Maior

quarta-feira, 20 de junho de 2007

"Lula tem 15 irmãos e algo como 100 parentes. Desde que Tomé de Souza chegou a Salvador, nenhuma família de governante teve tão poucas relações com o Estado como a dos Silva. Mais: nenhuma veio de origem tão modesta e continuou a viver em padrões tão modestos". ELIO GASPARI

A Bolívia real

O que você lerá neste texto sobre a realidade política, social e institucional boliviana não me foi contado por ninguém. Este relato é fruto de investigação que fiz em viagem de negócios que ora empreendo à Bolívia.

Escrevo de Santa Cruz de la Sierra, quase ao fim de uma viagem de duas semanas. Nos últimos dez dias, aproveitei o tempo livre de que pude dispor para assistir programas de TV sobre política, ler jornais, ouvir pessoas, ir aos bairros pobres da periferia de Santa Cruz (no fim de semana), enfim, aproveitei esta viagem para me aprofundar ao máximo numa questão que chega ao Brasil de forma extremamente deturpada e/ou mutilada em razão dos mesmos interesses obscuros que têm feito com que uma parcela exígua dos bolivianos, a elite, venha dando um show ridículo de burrice, de intolerância e de egoísmo que beiram a bestialidade, por mais branca, instruída e rica que essa elite seja.

A elite, a mídia e o grande empresariado bolivianos estão tentando reproduzir o que seus congêneres venezuelanos vêm fazendo há anos na Venezuela, ou seja, tentam derrubar ou, na pior das hipóteses, paralisar um governo democraticamente eleito e que apenas tenta pôr fim à miséria de dar dó em que vivem índios que constituem a quase totalidade da população boliviana.

Alguns fatos sobre a Bolívia que é preciso saber para bem entender o que se passa aqui. Este é o país mais pobre da América do Sul. Os índios quéchuas, aymarás e outros, mais uma boa parcela de mestiços, constituem uns 90% da população. Destes, outros 90% vivem, em grande parte, na pobreza, e a maior parte, na miséria. Um contingente expressivo dos índios bolivianos ganha cerca de um dólar por dia. A maior parte dos índios não tem rede de esgoto, educação minimamente aceitável e padece de doenças que desapareceram na maioria dos países de civilização média. A maioria indígena está concentrada em cidades da Cordilheira dos Andes como La Paz, Sucre, Cochabamba, Oruro, Potosi etc.

Os habitantes indígenas das cidades do Altiplano (da Cordilheira) são conhecidos como “collas”, e os da planície, da região conhecida como “Media Luna” (constituída por Santa Cruz de la Sierra, Pando, Tarija e Beni), são conhecidos como “cambas”. Há uma rivalidade crescente e explosiva entre “collas” e “cambas”. Eles se odeiam, ainda que muitos indígenas vivam na região da “Media Luna” segregados, sem direitos, oprimidos e odiados. Os “cambas” dividem-se entre uma minoria branca e rica, majoritariamente descendente dos conquistadores espanhóis que não se miscigenaram com os quéchuas, aymarás e outros, e os índios (“collas”) submissos que formam um enorme exército de serviçais dos ricos da região de Santa Cruz. Os “cambas” índios e mestiços, em grande parte, votam e emulam os discursos de seus patrões, mas, muitas vezes, da boca para fora, como mostram os resultados eleitorais das eleições mais recentes, nas quais os “cambas” índios e pobres dividiram-se, pendendo levemente para as posições políticas da elite.


Logo nos primeiros dias aqui em Santa Cruz passei a acompanhar com grande atenção a mídia local. Os grandes canais de TV e o principal jornal da direita branca e rica, tais como as TVs Unitel, do grupo agropecuário Monastérios, Red Uno, do grupo de supermercados Kuljis, Sitel, da cervejaria dos Fernandez, Pat, do grupo dos Daher (distribuidores Sony na Bolívia) e o jornal El Dia. Foi aí que me dei conta de que a América Latina está submetida toda ao mesmo processo, no qual as elites midiáticas dos países da região - todos transbordando de pobreza e desigualdade - tentam, valendo-se do controle que exercem sobre os meios de comunicação, impedir que as grandes massas mestiças, negras e índias, mantidas na ignorância, na pobreza extrema e vivendo em condições indignas, votem em causa própria, elegendo governos comprometidos com a promoção de distribuição de renda e de oportunidades.

Uma digressão : o que vemos fazer a mídia brasileira não chega a ser um décimo do que fazem as mídias de países nos quais foram eleitos governos dispostos a enfrentar as elites e suas mídias com maior decisão. São países como Bolívia, Venezuela, Equador etc, os quais venho visitando há mais de uma década. Porém, assim mesmo, posso garantir que o Brasil está trilhando o mesmo caminho que eles. Só que, devido a ser um país muito mais complexo e devido ao fato de que Lula parece ter optado por uma transformação mais lenta e contemporizadora, a mídia brasileira, por incrível que possa parecer, porta-se com maior comedimento do que suas congêneres de outros países latino-americanos.

De volta à Bolívia. Quem chega a Santa Cruz e começa a assistir as grandes TVs locais, chega a ficar com medo. Nos programas em que os brancos ricos vertem sua baba reacionária contra Evo Morales, só se fala em “guerra civil”, “desobediência civil” e “autonomia”. O discurso que predomina na mídia dos “cambas” brancos e ricos dá a impressão de que o que ocorreu na Venezuela, por exemplo, ocorrerá na Bolívia em pouco tempo. O ódio da elite “cruceña”, no entanto, não nasceu com a chegada do índio Evo Morales ao poder.


Os “cambas” brancos e ricos – que não passam de um punhado que não dá dez por cento dos bolivianos – odeiam os “collas” desde sempre. Horrorizam-se com seus trajes típicos – por exemplo, das mulheres gordinhas, baixinhas, de pele escura, que usam xales com motivos indígenas, saias compridas e rodadas e chapéus-coco -, com suas bocas desdentadas, com seus narizes aduncos... Enfim, gente “feia”, para os brancos ricos da região da rica “Media Luna”. E horrorizam-se mais ainda ao ver o ministério de Evo Morales, majoritariamente composto por “collas despreparados”, no dizer da elite. O ódio deles, então, tem raízes históricas. A chegada de um dos objetos de sua execração ao poder apenas exacerbou um ódio que já existia, porém embebido em mero desprezo.

Mas há outros fatores para o ódio dos “cambas” brancos e ricos. Como alguns já devem ter adivinhado, é o dinheiro. Evo seguiu o exemplo de Hugo Chávez, que passou a canalizar o dinheiro do petróleo que abunda em seu país para lograr feitos como extinguir o analfabetismo na Venezuela depois de décadas em que a elite branca de lá chegava a usar esse dinheiro até para importar água mineral de Miami, ou o exemplo de Lula, que despertou o ódio da elite brasileira ao adotar medidas que estão levando negros e índios às universidades e permitindo que famílias pobres se alimentem, vistam-se e vivam melhor graças a programas como o “Bolsa Família” ou o “Luz Para Todos”.

A exígua elite boliviana contava com o referendo de dezembro do ano passado sobre a “autonomia departamental”, ou seja, autonomia econômica e administrativa de cada um dos nove Estados do país. Esse referendo foi proposto pelo presidente anterior, Carlos Mesa, para ocorrer no fim de 2006. A tal “autonomia” teria o condão de manter em Santa Cruz os recursos que Evo vem “torrando” com os “collas”, que são, apenas, três quartos dos bolivianos. O que aconteceu: por margem apertada, a “autonomia” venceu nas regiões da “Media Luna”, mas perdeu no conjunto da Bolívia. Ainda assim, devido a peculiaridades da redação do referendo, seria possível alguns “departamentos” se tornarem autonômicos e outros não.

Antes de prosseguir, devo relatar um fato importantíssimo para a compreensão desse problema. A Bolívia tem hoje funcionando uma Assembléia Nacional Constituinte na capital do país, que, ao contrário do que se pensa, não é La Paz e, sim, Sucre. La Paz é apenas a sede do governo boliviano. Bem, o governo central não desrespeitou o resultado do referendo, ainda que na autonomia pretendida pelos “cambas” brancos e ricos estejam absurdos como uma espécie de “ministério de relações exteriores” para os “departamentos” autonômicos e outras sandices pretendidas por eles que significariam a virtual separação da região da “Media Luna” do resto da Bolívia. Evo apenas determinou que a regulamentação da autonomia terá que ser feita pela Assembléia Nacional Constituinte. Supõe-se, por óbvio, que não se trata de nenhum absurdo pretender que uma medida dessa magnitude passe por um conclave de parlamentares constitucionais eleitos para redigir a nova Constituição do país.


Os “cambas” brancos e ricos não aceitam. Começaram a falar, ensandecidos, em “guerra civil” e em “desobediência civil”, o que seja, os governos da “Media Luna” não repassarem impostos ao governo central e desobedecerem suas determinações. Para que se tenha uma idéia da surto alucinado que tomou conta dessa gente, chegaram a ir aos EUA para tentarem falar com o presidente George Bush. Obviamente que não foram recebidos pelo simples fato de que o povo boliviano elegeu Evo Morales para representá-lo. Depois foram à ONU e também deram com a cara na porta.

A tal “guerra civil” que pretendem os “cambas” brancos e ricos, no entanto, não passa de balela. Apesar de terem conseguido que alguns de seus serviçais “collas” os ajudassem a vencer o referendo sobre a autonomia – mas não a eleição dos constituintes – por margem apertadíssima, eles não têm condições de desencadear as grandes, porém amplamente minoritárias, passeatas da elite venezuelana. Aliás, se conseguissem provocar a tal guerra civil, seriam trucidados. As forças armadas bolivianas são compostas, obviamente, pelos odiados “collas” e não estão nem aí para os xiliques das madames “cambas”, que agora se congregaram num grupo de peruas que se auto-intitula “Mujeres de Septiembre”, que promove manifestações de meia dúzia de gatos pingados e brada contra o “comodismo” da maioria esmagadora dos “cambas”, que não lhes engrossa os atos contra o governo.

Este texto tem por objetivo levar ao Brasil um pouco da realidade latino-americana que estou acompanhando de perto e cada vez mais graças ao meu trabalho, que é percorrer a América Latina de ponta a ponta para vender meus produtos. Em nosso país sabemos muito pouco sobre nossos vizinhos porque à mídia não interessa a integração latino-americana. Dividir para governar é o lema da oligarquia latino-americana. Ações no sentido da que empreendi nesta viagem têm o sentido de diminuir a verdadeira censura que os oligarcas da mídia brasileira nos impõem. Talvez eu não faca diferença, mas estou tentando fazer minha parte. Se vocês quiserem, façam a vossa. Como? Por exemplo, difundindo este texto. ( Escrito por Eduardo Guimarães - edu.guim.blog.uol.com.br)

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Novo espaço cultural

A cidade de Divinópolis terá um novo espaço cultural. Será no Mercado Municipal. Um projeto prevê a realização de exposições e apresentações artísticas. A idéia é revitalizar o local e torná-lo um espaço alternativo de arte e cultura para a cidade. Começa hoje à tarde, a partir das 16h, com o lançamento do primeiro CD de Pedro Flora. Além de várias apresentações musicais ficará em exposição nesse final de semana as fotografias de Evandro Araújo e pinturas de frei Handag, cujas peças foram tombadas pelo patrimônio do município.

MST propõe criação de agrovilas

A proposta de reforma agrária que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pretende discutir com o governo federal e com a sociedade brasileira prevê a criação de agrovilas: a implementação de micro-cidades em assentamentos rurais com uma infra-estrutura que permita a interação entre homem, trabalho e meio ambiente.

Segundo Maria de Fátima Ribeiro, da coordenação nacional do MST, as agrovilas representam a possibilidade de fixar os jovens no campo. O projeto foi desenvolvido por arquitetos, a partir de parcerias entre o movimento e universidades. "A idéia é massificar, dar moradia ao homem do campo, permitindo que a juventude não precise se mudar para os centros urbanos".

Ribeiro diz que as agrovilas funcionariam como pequenas cidades com infra-estrutura básica, como saneamento, posto médico, escola, etc. Além disso, haveria espaço para esporte, lazer e atividades culturais. A construção das casas seria feita em local que permitisse uma ligação direta com as áreas de cultivo, respeitando a vegetação e as fontes de água.

As ações coletivas serviriam para integrar a comunidade nas agrovilas. “A idéia é incentivar formas de cooperação, como mutirões, criação de associações e cooperativas, e realizar programas de lazer, cultura e esporte”. De acordo com ela, algumas agrovilas já foram construídas no Nordeste. “Essas experiências têm se mostrado um sucesso”.(Fonte http://www.pt.org.br/)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Miséria dos pobres - O egoísmo dos ricos



Criaram, na imprensa, um personagem fantástico, feito de retalhos de inquéritos, retalhos de declarações do próprio presidente, retalhos de declarações de seu sósia na vida real, o cidadão brasileiro Genivaldo Inácio da Silva.Escrito por Flávio Aguiar - da Carta Maior.


Passei um mês fora do Brasil, e me esqueci, por causa daquelas correrias, de pedir a transferência dos jornais entregues por assinatura para o endereço de uma das minhas filhas. Resultado: como a faxineira que freqüenta minha casa é muito diligente e respeitadora, lá estavam eles – os jornais – convenientemente empilhados, aliás, gigantescamente empilhados. O folhear daquela pilha passadiça me confirmou a impressão que eu tivera pela internet. Os deserdados do segundo turno de outubro de 2006 continuam na ativa – ainda que deserdados, é verdade. Não há o que fazer, para eles, a não ser CPIs, e procurar ataques à probidade do presidente. Não há programas a apresentar, idéias a debater. Só a moral do presidente interessa, e só a do presidente e de seus arredores.


Criaram, na imprensa, um personagem fantástico, feito de retalhos de inquéritos, retalhos de declarações do próprio presidente, retalhos de declarações de seu sósia na vida real, o cidadão brasileiro Genivaldo Inácio da Silva, irmão mais velho do mandatário da nação. Esse personagem chama-se Vavá. Vavá está em toda a parte, Vavá é o band-aid da falta de assunto, Vavá é imorredouro, Vavá é tudo e é nada, é lobista e é ingênuo, é um vírus e é o inocente-útil, é falastrão e é calado, tudo depende da manchete e da notícia. Vavá é melhor do que Roberto Jefferson: ao contrário deste, Vavá quase nada parece ter a dizer. Então pode se lhe atribuir tudo. Vavá ligou para o presidente. O outro irmão do presidente ligou para Vavá. Aliás, não se sabe se foi propriamente o irmão, só se sabe ao certo que o telefonema partiu de um telefone da família, e que provavelmente a voz em questão deve ser desse outro irmão.


É uma novela de suposições. Provas, investigação jornalística, muito pouco há. Há ilações a partir de fragmentos de relatórios e inquéritos, de conjeturas e suposições. Mas de tudo se pode tirar uma conclusão segura. O que interessa mesmo é mostrar como Vavá (o personagem, do irmão de Lula, pelo noticiário, pouco sei), esse Vavá, é canhestro, é desajeitado, como ele parece ter feito lobby sem saber fazer lobby. Lobby, afinal, é coisa de gente fina. Pobre faz lobby? Não, responde esse noticiário grotesco. Pobre pede. É diferente. A conclusão dessa leitura acumulada é uma só: é nisso que dá por alguém “do povo” no Palácio do Planalto. É que nem casamento: os noivos não casam só um com a outra, ou com o outro, ou uma com a outra, nestes novos tempos (felizmente) mais abertos que o Brasil vive; os noivos casam com as respectivas famílias também. E vejam no que dá fazer a família de pobre (e petista ainda por cima!) chegar à rampa do Palácio. Dá lobby? Não, não só. Dá ridículo, dá vergonha, é isto que o noticiário exala. Pobre é desajeitado, quando fala se lambuza de palavras e de poder, vejam só!


Enquanto isso, o país vai melhor. Em muitas coisas, em outras não, é claro. A economia vai melhor, o povo vai melhor, muito melhor do que nunca esteve, pelo menos desde os tempos dos finados doutores Getúlio e Juscelino. O dólar baixa, o poder aquisitivo cresce, as famílias tem mais dinheiro para gastar (há economistas preocupadíssimos com isso), o euro nunca esteve tão baixo em relação ao real, a economia se aquece aqui e ali, ou seja, há um país inteiro a decifrar: que pauta! Mas as esfinges do nosso jornalismo ímpares só têm uma pergunta a se fazer: como impedir daqui para frente que o povo possa imaginar que um deles – ou mesmo um que governe em nome deles, por eles e para eles – possa permanecer impune, imune, no Palácio do Planalto. Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.


A Grande Mídia quer ver o país na miséria. Ela é a grande culpada pelas "crises" no país. Meia dúzia de empresários da imprensa quer dominar os destinos da nação brasileira.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Brasil entre os melhores

Com o PIB e renda maiores, país chega ao primeiro mundo na área social.

Reportagem do Terra Magazine, publicada hoje, destaca que o Brasil já entrou no seleto grupo dos 63 países com "alto desenvolvimento humano". Isto ocorre em função da melhora do índice do PIB brasileiro e da renda per capita, como também do avanço dos programas sociais como o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo (hoje em 200 dólares)e do continuado avanço na universalização da educação básica.

Com a criação de quase 5 milhões de novos empregos formais, a renda dos mais pobres cresceu e ampliou o acesso a alimentos e remédios, dando um impacto direto no aumento da longevidade(estimativa do número de anos que vão viver, em média, as pessoas nascidas em um determinado ano), que segundo o IBGE é de 71,9 anos.

O IDH é uma espécie de nota de zero a um, que avalia a qualidade de vida em 177 países, com base nos critérios de renda, escolaridade e longevidade da população.

O cálculo do IDH é um dos mellhores parâmetros de avaliação da eficácia das políticas públicas. Ele mostra que o Brasil está avançando. Se a miséria não foi eliminada, é cada vez menor seu peso relativo no conjunto da sociedade.

terça-feira, 12 de junho de 2007

A Revolução


Combatendo o trabalho infantil


Hoje, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, começará a veicular na televisão, nas rádios e nos jornais uma campanha para ajudar a identificar a situação de trabalho infantil e denunciar.

Segundo o IBGE, no Brasil, cerca de 3 milhões de crianças e jovens de até 16 anos trabalham. É um número muito elevado considerando que a Constituição Federal proíbe qualquer tipo de trabalho para menores de 16 anos, exceto como aprendizes a partir dos 14 anos. Na maioria das vezes, trata-se de meninas obrigadas a lavar, passar e cozinhar ou cuidar de crianças menores do que elas.

A sociedade também é responsável pela erradicação do trabalho infantil. Mudar essa cultura depende da vigilância, depende da disposição das pessoas de denunciar, sair do individualismo e de fato ter uma participação cidadã, coletiva.

No Brasil existe o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) onde são atendidas 872 mil crianças. O PETI paga à família R$ 40 por cada criança que deixe de trabalhar e volte aos estudos. A criança também deve participar de uma atividade no horário em que não estuda, a chamada jornada ampliada. Os municípios recebem ainda R$ 20 por criança para ajudar no projeto. Se a família estiver cadastrada no programa Bolsa Família, o valor sobe para R$ 95.

A denúncia de trabalho infantil deve ser feita pelo telefone 0800-707-2003 aos conselhos tutelares, conselhos da Criança e do Adolescente, conselhos de assistência social, à própria escola, a uma unidade básica de saúde, aos agentes do programa Saúde da Família, ou ao Ministério Público.

Alguns mitos da cultura brasileira

"Criança no trabalho é melhor do que nas ruas". “Criança trabalhando não está na marginalidade”. São alguns dos mitos comuns na cultura brasileira. É importante salientar que apenas 3% das crianças que começam a trabalhar entre cinco e onze anos conseguem alcançar o ensino médio. E apenas 12% dos jovens entre 12 e 15 anos que entram precocemente no mercado de trabalho chegam a esse mesmo ensino médio. Sabemos que se a pessoa não estuda e não se profissionaliza adequadamente, não tem condições de competir no mercado de trabalho, cada vez mais exigente.

Criança tem o direito de estudar, brincar, praticar esportes, participar de eventos culturais. Isso não pode ser apenas artigos de luxo para uma pequena parcela da sociedade. É necessário o país investir em escolas bem equipadas em tempo integral para atender a todos que dela precisam. Vamos lutar por isso.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

G-8: dúvida sobre o resultado

G-8: Vitória dos manifestantes, dúvida sobre o resultado

Uma coisa é certa, independentemente do fracasso ou do sucesso dos resultados da reunião oficial do G-8: esse encontro em Heiligendamm propiciou o reforço do movimento altermundista na Alemanha.



ROSTOCK (Alemanha) - Nesta sexta-feira, 8 de junho, sob forte calor, começou o último dia de trabalho da reunião do G-8, a cúpula que reúne anualmente os sete países mais industrializados do mundo (EUA, Reino Unido, Franca, Japão, Canadá, Itália, a anfitriã Alemanha) e a Rússia.

Na parte da manhã a reunião inaugurou o encontro do G-8 com o agora chamado G-5, o grupo de países especialmente convidado para esta rodada: Brasil, África do Sul, China, Índia e México. O presidente Bush não esteve presente na abertura da reunião, por volta das 10h30 da manhã, devido a um leve mal-estar estomacal, segundo porta-voz da presidência. Mas pela uma da tarde ele já estava presente à reunião.

Na pauta da reunião de sexta-feira, como na maior parte dos encontros de quarta e quinta-feira, está o complexo tema de como deter o aquecimento global e que tipo de compromisso obter entre essas e outras nações.

Os Estados Unidos trouxeram, como novidade, uma declaração do presidente Bush de que o país trabalharia na direção de um acordo paralelo ao Protocolo de Quioto, mas sem compromissos ou metas claramente definidos. Depois de uma semana em que manifestou pessimismo, a primeira-ministra alemã Angela Merkel manifestou ter obtido uma vitória parcial, fazendo (com pressão também do primeiro-ministro britânico Tony Blair) com que o presidente Bush se manifestasse pelo menos inclinado a considerar propostas de redução das emissões de gás carbônico na atmosfera. A imprensa conservadora alemã saudou em grandes manchetes essa alegada “vitória” de Merkel. O jornal sensacionalista e conservador Bild chegou a apresentá-la como “Miss Mundo”. Jornais mais à esquerda foram mais céticos, ressaltando que a declaração de propósitos comuns tinha por objetivo muito mais salvar o G-8 do que propriamente o mundo, uma vez que os termos do compromisso obtido são vagos e distantes.

O acordo de princípios fala numa redução de 50% das emissões de gás carbônico em relação aos índices de 1990, até 2050. Mas não há cronograma ainda (embora os chefes de estado tenham declarado que isso é assunto para ministérios do meio ambiente ou órgãos assemelhados). E fica de pé a questão de se esse índice será negociado com os países do G-5, sobretudo com a China, que até o momento vem se mantendo numa posição tão recalcitrante em relação a acordos internacionais nessa área quanto os Estados Unidos.

O acordo também foi criticado pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que reclamou da necessidade dos países mais ricos estabelecerem compromissos mais claros, uma vez que eles foram os maiores responsáveis pela poluição do planeta e ainda são, tendo responsabilidade por 60% das emissões de gás carbônico no mundo. Além disso, ainda em Berlim, antes de chegar a Heilingendamm, local da reunião, o presidente Lula criticou a falta de um cronograma preciso, argumentando que a meta de redução de 50% nas emissões até 2050 pode significar que até 2049 ninguém vai fazer nada.

Por seu lado, o ex-assessor do presidente Bill Clinton e ganhador do prêmio Nobel de economia, Joseph Stiglitz, em entrevista ao Spiegel On-Line, criticou duramente a política de Bush, dizendo-a diretamente responsável pelo aquecimento global e afirmando, além disso, que o presidente norte-americano é refratário a uma “linguagem civil” e precisa ser confrontado com atitudes mais dramáticas do que apenas declarações de princípio.

Numa outra frente, houve uma grande surpresa quando o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, ofereceu ao presidente Bush a possibilidade de ambos, seu país e os Estados Unidos, construírem uma base militar antimíssil conjunta na República do Azerbaijão, ex-integrante da finada União Soviética. A proposta de Putin surpreendeu a todos num momento em que se falava de um retorno aos tempos da guerra fria, depois de o primeiro-ministro ter feito declarações no passado recente dizendo que os mísseis do seu país poderiam se voltar de novo para a Europa e de o presidente Bush ter reafirmado o compromisso com o governo da República Tcheca e da Polônia no sentido de construir uma rede de radares e bases antimísseis nos dois países.

Bush tentou amenizar as declarações, feitas na véspera da reunião do G-8, dizendo que “o inimigo” não era a Rússia, numa alusão talvez ao Irã ou mais remotamente à Coréia do Norte. Mas a declaração não surtiu efeito nem rompeu o azedume da diplomacia russa diante dessa nova ameaça de bases militares com baterias voltadas para o leste e tão perto de seu país. Ao contrário, o movimento de Putin sinalizou a possibilidade de novas conversações. Disse o primeiro ministro que já há uma base no Azerbaijão, que antes era parte do sistema defensivo da União Soviética, e que ela poderia ser utilizada para a nova instalação conjunta. Como tudo no G-8, não houve um compromisso definido, mas Bush declarou que os analistas norte-americanos iriam considerar a proposta.

Numa terceira frente das discussões multi ou bilaterais, os países do G-8 se comprometeram na quinta-feira a repassar uma ajuda de 60 bilhões de dólares à África. Mas mesmo esse movimento gerou novas dúvidas, pois em 2005 o mesmo grupo de países comprometeu-se com o envio de 25 bilhões de dólares em ajuda ao continente africano, mas apenas um terço dessa quantia foi de fato liberada.

Enquanto isso, as manifestações e protestos continuaram na cidade vizinha de Rostock e nas imediações de Heiligendamm. Na tarde de quinta-feira 80 mil manifestantes, segundo os organizadores, reuniram-se para um show de rock com estrelas famosas na Alemanha, entre elas o holandês Youssou N´Dour e o compositor e cantor alemão Herbert Grönemeyer, que prometeu fazer duras cobranças em relação às promessas de Angela Merkel de aumentar a ajuda alemã ao continente africano.

Os confrontos entre policiais e manifestantes foram menos dramáticos do que os de sábado (com um saldo de 1000 feridos) ou de segunda-feira, quando foram dominados pelo grupo dos autoproclamados Chaoten, Caóticos, ou Autonomen, Autônomos. Tanto na quarta quanto na quinta-feira os manifestantes bloquearam estradas de acesso a Heiligendamm, e tentaram se aproximar da cerca de 12 km. Que impede o acesso à cidade-balneário onde se realiza o encontro, por vezes marchando e cantando bucolicamente entre trigais quase prontos para a colheita. Houve confrontos em que a polícia chegou a usar jatos de água, gás lacrimogêneo e a efetuar algumas detenções. Mas de um modo geral os manifestantes cantaram vitória, pois a polícia, pateticamente, reconheceu não estar preparada para lidar com protestos pacíficos daquela natureza, e os organizadores da reunião em Heiligendamm reviram seus planos originais, fazendo o pessoal de serviço, de tradutores a copeiros e carregadores de mala, ter acesso ao hotel do encontro através do mar e do uso de barcas. Ainda assim, no mar, dois barcos do Greenpeace conseguiram entrar nas águas próximas do hotel, sendo perseguidos durante dez minutos e finalmente detidos (um deles foi praticamente abalroado) por embarcações da marinha alemã, mas sem maiores conseqüências.

Uma coisa é certa, independentemente do fracasso ou do sucesso dos resultados da reunião oficial do G-8 e daquela com o G-5 e outros países pobres da África também convidados: esse encontro em Heiligendamm propiciou o reforço do movimento altermundista na Alemanha. Num primeiro momento os protestos ameaçaram perder seu conteúdo político em favor de uma idéia do confronto pelo confronto, imposta pela ação tão dramática quanto destituída de propostas explícitas dos Chaoten. Embora, seja necessário reconhecer, a ação dos Chaoten não seja destituída de significado político – tema para uma futura matéria. Mas na medida em que os protestos e o encontro avançou, o sentido político de contestar que os destinos do mundo sejam decididos num clube tão pequeno e tão desprovido de compromissos concretos com o resto do mundo ao longo de sua história.
Por: Flávio Aguiar – Enviado especial -Agência Carta Maior