quarta-feira, 15 de outubro de 2008

IBGE - Nova dinâmica da rede urbana brasileira

O IBGE publicou, dia 10 último, excelente texto em que mostra a nova dinâmica da rede urbana brasileira, as regiões de influência das cidades.

Abaixo um pequeno trecho:

Existem no país doze grandes redes de influência, que interligam até mesmo municípios situados em diferentes estados. A rede centralizada por São Paulo, por exemplo, também abrange parte de Minas Gerais, do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre. O Rio de Janeiro tem projeção no próprio estado, no Espírito Santo, no sul da Bahia, e na Zona da Mata mineira.

A rede de Brasília influi no oeste da Bahia, em alguns municípios de Goiás e no noroeste de Minas Gerais. As outras nove redes de influência são centralizadas por Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Goiânia, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.

Foram analisadas informações fornecidas pela rede de agências do IBGE sobre 4.625 municípios, e registros administrativos do próprio instituto, de órgãos estatais e empresas. A atual configuração da rede urbana brasileira é comparada com estudos feitos pelo IBGE em 1972, 1987 e 2000.

Entre os diversos dados comparativos coletados a respeito das 12 redes de influência, nota-se que, para fazer compras, a população brasileira se desloca cerca de 49 km, em média. Na rede de influência de Manaus, no entanto, essa distância é de 218 Km. Para freqüentar uma universidade, o deslocamento médio, em Mato Grosso é de 112 Km, contra 41 Km na rede de influência do Rio de Janeiro. Pacientes percorrem, em média no país, 108 km em busca de atendimento médico.

Leia aqui a íntegra da publicação do IBGE.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

500 anos de resistência

Fotografados, índios "invisíveis" de uma das últimas tribos isoladas da Terra reagem a flechadas

Após quase 20 horas num avião monomotor, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, comandou um sobrevôo que resultou nas primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. As mulheres e suas crianças fugiram para a floresta em busca de proteção, enquanto os guerreiros da tribo se posicionaram e reagiram atirando flechas no avião.

Nas cabeceiras do Igarapé Xinane, afluentes da margem direita do rio Envira, conhecido nos mapas de geografia como Cachoeira, muito próximas ao paralelo 10º, no limite Brasil-Peru, foram fotografadas malocas de índios isolados. Ambas foram localizadas inicialmente, a partir dos recursos da ferramenta Google Earth.

As mulheres índias do grupo de isolados que foi fotografado usam saiote de algodão. Os homens usam uma cinta de algodão na qual amarram o pênis. Raspam o cabelo até a metade da cabeça, mas a cabeleira se estende até o meio das costas. Usam tiaras e aparecem pintados de urucum (vermelho). Chama a atenção o fato de que alguns poucos aparecem pintados de jenipapo, isto é, com os corpos pretos, mas sem arco e flecha.



Fartura

- Os roçados são enormes, todos plantados de macaxeira, milho, algodão, banana, cana, batata, mamão, urucu e possíveis outras variedades que não são detectáveis nas fotos. São seis malocas e podemos afirmar que desde o primeiro sobrevôo, ocorrido há vinte anos, estes índios ao menos dobraram a população. São eles que aparecem nas fotos, pintados, fortes, guerreiros e sadios, recebendo nosso avião invasor com flechas - assinala Meirelles.

O sertanista não esconde o entusiasmo após 20 anos de dedicação na proteção dos índios isolados, também conhecidos na região como "índios invisíveis", pois até então jamais tinham sido avistados ou fotografados.

Meirelles Júnior comemora o fato de que a população de índios isolados possivelmente está aumentando por dois motivos.

- O primeiro é a tranqüilidade que o trabalho de proteção proporciona. Por conta disso, a vida segue normal, com fartura, muita criança nascendo e ninguém sendo morto por invasores.

- O segundo, é lamentável, a expulsão de povos isolados de seus territórios pela frente de exploração ilegal de madeira em território peruano e a consequente migração deles para o território brasileiro. Sejam bem-vindos - saúda o sertanista.

Espero que divulgação das imagens sirva para sensibilizar a opinião pública, dentro e fora do país, da necessidade imperiosa de preservação ambiental e de proteção dos povos desconhecidos ou isolados que se recusam o contato com a civilização branca há mais de 500 anos - apela José Carlos dos Reis Meirelles.


Fonte: Portal Terra

"Big bug", o grande caos

Merece leitura e reflexão o texto publicado na folha de São Paulo, 22/05, a respeito do uso das novas tecnologias informacionais e como elas tomaram conta da nossa vida de maneira irracional.

"Big bug", o grande caos

CÁSSIO SCHUBSKY

As novas tecnologias nos fazem trabalhar sem parar. As (poucas) férias agora são contaminadas pelo vírus da conectividade permanente.

QUANDO HOUVE a virada do novo milênio, rondava entre nós, os conectados na internet, o medo do chamado bug.

Temia-se que os computadores entrassem numa espécie de catalepsia em rede, ocasionada por uma situação inusitada: os softwares não estariam programados para decodificar os dígitos do ano 2000. As máquinas como que parariam no tempo ou, pior, voltariam para trás, no fatídico 1º de janeiro de 00.

O risco era o de que a pane acarretasse reveses econômicos inestimáveis. Conjecturava-se que os bancos, coitados, sofreriam perdas medonhas – pela primeira vez! Parecia até sabotagem arquitetada por astutos hackers para promover, se não a redistribuição de renda, alguma perda econômica, que fosse, para os aquinhoados pelo destino (e pela herança).

Programadores acorreram de todos os lados, esbaforidos, para evitar o pior. E o pior não veio. Não veio?

Por outro lado, há muitos anos, contingentes expressivos de seres humanos vinham acalentando a perspectiva de que os avanços tecnológicos nos levariam a trabalhar menos: as máquinas nos serviriam, enquanto poderíamos despender o tempo extra resultante dessa servidão a nosso bel-prazer, para o lazer, em idílico "dolce far niente". O melhor da festa viria.
Veio?

É fácil perceber que, em termos de previsões, nossos futurólogos da tecnologia são um fiasco. Nem bug, nem "dolce far niente". O que veio – e parece que para ficar... – é uma espécie de "big bug", ou, na língua de Machado de Assis, o grande caos.

As novas tecnologias estão fazendo muitos de nós trabalharmos sem parar. Se as férias já eram poucas, muitas vezes resumidas a parcos dias nas festas de final de ano, agora, ainda por cima (por baixo, por trás e pelo lado), são contaminadas pelo vírus da conectividade permanente: celular, iPhone, computador portátil, enfim, o escambau, que fica ligado, piscando, vibrando, zunindo, para acabar com nosso sossego. Adeus, fim-de-semana, oh! saudosas noites de luar! (ou de céu cinzento, que fossem).

O que dizer, então, do famigerado e-mail? "Uma maravilha! Agiliza tudo! Facilita a comunicação entre as pessoas", dirão os incautos. Ora, além de não ter diminuído a jornada de trabalho, a tecnologia, por via do e-mail – para ficar apenas no nosso exemplo –, está fazendo com que trabalhemos mais horas. Muito mais!

Se alguém nos envia uma mensagem, antes de tudo, é preciso lê-la.

Muitas vezes, respondê-la. Fique-se um dia sem consultar a caixa de mensagens, e elas irão se acumulando como coelhos cibernéticos, com suas respostas, cópias e encaminhamentos para terceiros.

E as tão sonhadas horas extras para o lazer viram pó, ou melhor, viram bits, pois as ocuparemos, até o fim dos tempos, somadas a outras horas extras de mais trabalho, para responder os queridos e-mails, copiá-los e encaminhá-los. E, depois de tudo, talvez ainda sobre um tempinho para deletá-los ou deles fazermos "backup".

E, se não sobrar, estaremos, como dizer... bem arranjados, porque, ou nosso computador dará uma pane qualquer por excesso de informação acumulada, ou então, para evitar o "big bug" pessoal, teremos, fatalmente, de limpar as caixas de mensagens, de entrada e de saída, as lixeiras, a parafernália toda.

Já sei: já é possível deixar os e-mails em sites hospedeiros, com segurança e praticidade. Vai confiar...

Com tudo isso, o tempo tem se tornado um dos bens mais escassos de nossa era. Em outras palavras: já se foi o tempo em que se tinha tempo para discutir o tempo, digo, se dia de sol ou de chuva. Agora, basta um click de nada, a qualquer hora e em qualquer lugar, e todas as informações estarão disponíveis instantaneamente. O prazer da conversa e o esforço prazeroso da busca pela informação? Babau.

Já não bastasse o trânsito, que cresce maligno, invadindo as ruas e todas as conversas (falta de assunto, viu?!), surrupiando o nosso precioso tempo, agora estamos escravizados pela tirania do e-mail. De repente, todo mundo acorda de uma longa letargia para olhar o caos urbano, a imobilidade instalada. E alguém ainda comemora a possibilidade de não perder tempo no engarrafamento, porque existe celular com e-mail. Que maravilha...

Onde é que nós vamos parar? Difícil dizer. O fato é que já estamos parando... De minha parte, alheio ao famigerado boom da indústria automobilística, tenho andado cada vez mais a pé. E tenho andado também com uma saudade danada de minha maquininha de escrever, de seu suave tec-tec-tec... tec-tec-tec... Agora, para completar, vou pegar um punhado de papel vegetal pautado, para escrever, de próprio punho, longas cartas aos amigos, tudo com muito vagar, apoderando-me do tempo e de mim mesmo... Adeus, pressa. "Bye, bug"!

CÁSSIO SCHUBSKY, 42, formado em direito pela USP e em história pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é editor e historiador. Fonte: Folha de S. Paulo – 22/05/08

terça-feira, 20 de maio de 2008

Instabilidade sul-americana e o "diferencial" brasileiro

Interessante leitura publicada no Blog Cidadania.com, do Eduardo Guimarães.

Olhados isoladamente, os países sul-americanos que, nos últimos anos, optaram por governos de esquerda aparentam estar mergulhados em meros conflitos locais entre progressistas e conservadores. Ao menos é assim que as mídias do continente os têm retratado, o que, à maioria das pessoas, parece produto de embates ideológicos naturais e históricos.

As próprias análises mais aprofundadas da mídia alternativa não explicam ou enveredam por hipóteses mais concretas sobre a origem dos problemas. O que parece que ela diz é que a origem de tudo seria a ideologia e, nesse contexto, as idiossincrasias norte-americanas.

Conhecendo a realidade dos países nossos vizinhos, porém, o que se pode deduzir é que o processo que ocorre em bloco na América do Sul deriva da desigualdade generalizada que, na América Latina, está entre as maiores do mundo, perdendo somente para a da África, onde castas se mantêm vivendo nababescamente às custas da miséria exacerbada da quase totalidade das populações. Nos países africanos, contudo, não há, como na América Latina, uma origem racial na desigualdade, com exceção da África do Sul.

As políticas redistributivas de alguns países sul-americanos, no entanto, têm sido combatidas com tentativas de desestabilização mais ou menos intensas, de acordo com a intensidade da disposição de cada governo de atacar essas desigualdades e, assim, contrariar os detentores locais da parte do leão das riquezas.

Em países como Argentina, Chile e Uruguai, três dos oito países sul-americanos que elegeram governos de esquerda, o processo de redução das desigualdades tem sido mais tranqüilo e a oposição da mídia, mais civilizada. Não se tem notícias de grandes crises políticas que tenham chegado perto de levar à deposição dos governos desses países, apesar de movimentos isolados como o do agronegócio argentino, ocorrido recentemente, mas que diminuiu de virulência, à diferença do que acontece em outros desses oito países, nos quais, em quatro, a situação é mais tensa, e no quinto restante, ainda é cedo para saber que rumo as coisas tomarão.

Esses cinco países restantes são Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai e Venezuela. Estes, dividem-se, de acordo com seus embates entre os governos de esquerda e as direitas locais, em três grupos.

Brasil e Equador integram o grupo dos países em que a situação é mais grave do que na Argentina, no Chile e no Uruguai, mas bem menos grave do que as situações do grupo mais crítico, composto por Bolívia e Venezuela, nos quais processos de ruptura institucional já tiveram ou estão tendo curso. E o Paraguai, obviamente, é o país de situação ainda indefinida, apesar de que é possível prever que essa situação irá se agravar. Afinal, a gravidade da concentração de renda, por lá, provavelmente só perde para a da Bolívia e a do... Brasil, o qual, aparentemente, tem uma situação política menos complicada do que a dos vizinhos.

Se eu disser, no entanto, que a gravidade da confrontação de classes - e é disso que se tratam, no fim das contas, os conflitos nos países citados - é maior no Brasil do que até numa Venezuela, em que tentativa de golpe de Estado foi desfechada há quatro anos, ou numa Bolívia, onde um processo separatista explosivo está em curso e pode se converter numa guerra civil se a direita local decidir, além de tentar montar um estado paralelo, montar um exército paralelo, dirão que estou por fora, mas se a análise se der com calma, poder-se-á ver um diferencial importantíssimo que faz do Brasil um país em que as instituições correm grave risco no caso de se tentar implementar um processo de redução da desigualdade mais efetivo e célere, como fizeram os países com situação política supostamente mais instável.

Nos países em que, supostamente, a confrontação político-ideológica é mais grave, ou seja, na Bolívia e na Venezuela, ou no Equador, onde o governo de esquerda tem problemas externos, com a fronteiriça Colômbia e com os EUA, mas goza de grande poder internamente, tendo praticamente destruído a oposição eleitoralmente na eleição de uma Assembléia Nacional Constituinte no ano passado, e muito mais na Argentina, no Chile e no Uruguai, onde a mídia ruge mais baixo e a elite se comporta melhor, até por conta das menores desigualdade e pobreza, bem, apesar de tudo isso os militares de todos esses países adotaram uma linha estritamente legalista.

Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa podem até ter oposição e mídia mais virulentas contra si, mas são apoiados incondicionalmente pelas forças armadas. No Chile, na Argentina e no Uruguai, aliás, os crimes das ditaduras dos anos 1960 e 1970 começam a ser punidos e os militares têm chegado até a fazer meas-culpas. E, no Paraguai, ainda não se sabe como eles se comportarão. O Brasil é o único desses países em que os militares ainda rugem e fazem coro com a direita.

Nos últimos anos (inclusive neste), os militares brasileiros têm feito desaforos para o governo. Recentemente, no caso dos conflitos na reserva indígena Raposa / Terra do Sol, as declarações de chefes militares chegaram a soar como ameaça ao governo do país. Hoje mesmo, os militares declararam que "não pretendem desempenhar o papel de guardas florestais" naquela região. Um absurdo, pois eles não têm a prerrogativa de dizer que missões pretendem ou não aceitar, pois a competência final sobre suas missões é, em última instância, do presidente da República, que, constitucionalmente, é o chefe supremo das Forças Armadas.

Como se não bastasse o fato de que os militares brasileiros, diferentemente do que acontece em qualquer dos outros países sul-americanos em que a esquerda chegou ao poder, permanecem sofrendo de comportamentos golpistas, temos ainda uma Suprema Corte de Justiça que vem sendo presidida por aliados políticos da oposição conservadora, gerando insegurança jurídica quanto a decisões que eventualmente viabilizem processos golpistas.

Por incrível que pareça, o diferencial brasileiro na instabilidade sul-americana é o de que neste país temos as condições mais "adequadas" para que um processo de ruptura institucional tenha curso, via, por exemplo, um golpe de Estado, que, novamente, seria desfechado pela direita contra um governo de esquerda sendo amparado pelos militares e pela mídia. Para que esse processo seja desencadeado, basta que, em vez de um conciliador como Lula, tenhamos um presidente de esquerda e de sangue mais quente, como, por exemplo, um Ciro Gomes.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

UFMG: inclusão para estudantes de escolas públicas e negros

UFMG aprova mecanismo de inclusão para estudantes de escolas públicas e negros
sexta-feira, 16 de maio de 2008, às 9h43

O Conselho Universitário da UFMG aprovou nesta quinta-feira, 15 de maio, a adoção de mecanismo destinado a ampliar a inclusão de alunos egressos de escola pública. A medida prevê a atribuição de adicional de 10% na pontuação obtida, no vestibular, pelos candidatos que freqüentaram escola pública da 5ª série do ensino fundamental ao último ano do ensino médio.
O Conselho Universitário também aprovou o acréscimo de 5% na pontuação no vestibular para estudantes negros que tenham cursando os últimos sete anos de sua formação básica em escolas públicas.

Ainda de acordo com o texto aprovado, a vantagem dessa alternativa é que a universidade pode modular a diferença de desempenho no concurso entre os candidatos, para que eles sejam admitidos nos diversos cursos. Outro ponto relevante é que, como sugerem simulações baseadas nos resultados do concurso de 2006, a utilização do tipo de escola de origem como critério de diferenciação incluiria, necessariamente, entre os beneficiados, estudantes de renda familiar mais baixa e aqueles que se declaram negros.

Um exemplo é o curso de medicina, o mais concorrido nos últimos vestibulares. Dos aprovados, em 2006, 14% estudaram em escolas públicas. Se o bônus tivesse sido aplicado, a proporção seria de 38%.

(Assessoria de Imprensa da UFMG)

domingo, 20 de abril de 2008

América do Sul



Ao lado, o mapa político da América do Sul, sendo vermelho os países com governos de esquerda, rosa governados pela centro-esquerda ou centro, azul pela direita e amarelo numa posição oscilante.






















Fonte: Rudá Ricci

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Brasil e o PIB Mundial

A notícia já rodou no início do ano, mas nem todas lideranças sociais sabem da atual situação do país perante a economia mundial. Então, lá vai a notícia completa. O Banco Mundial possui um programa de comparação internacional (PCI), envolvendo 146 países. Pela comparação do poder de compra, o País passou de 7º para 6º no ranking mundial e é responsável por metade da economia da América do Sul e por quase dois terços dos gastos governamentais da região.O Brasil aparece em sexto lugar, com o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, junto a Grã-Bretanha, França, Rússia e Itália. Na medida convencional, o Brasil é sétima economia, com 2% do PIB, junto a Índia, Rússia e México.Sobre "paridade do poder de compra": ao invés de converter o PIB do país em dólares, foi usada a paridade, que expressa os valores das moedas locais. Dessa forma, segundo a entidade, “os números refletem o valor real de cada economia, com as diferenças sendo corrigidas em níveis de preços sem que sejam afetadas por movimentos transitórios de taxas cambiais”. Ainda segundo o Banco Mundial, pelo critério da paridade, a China, em vez do quarto lugar na economia mundial, fica no segundo posto. A economia mundial produziu US$ 55 trilhões em mercadorias e serviços em 2005, sendo quase 40% deste valor oriundos de países em desenvolvimento. Pouco mais de 20% vêm de China, Índia, Rússia, Brasil e México. Os EUA seguem no topo do ranking, mas com uma economia menor. Enquanto pelo sistema cambial o país tem o equivalente a 28% do PIB mundial, pela paridade, tida como mais realista, tem 23%.

fonte: blog do Rudá Ricci

quinta-feira, 27 de março de 2008

Uma revolução silenciosa

Não me ocorre definição melhor para o que está acontecendo no Brasil. Uma boa notícia nos jornais de hoje deixa explícitos os resultados de um conjunto de medidas acertadas, adotadas em cinco anos de governo Lula, rumo ao desenvolvimento econômico sólido de nosso país. Estudo recente encomendado por uma instituição financeira internacional, em parceria com o Instituto Ipsos, mostra que o número de brasileiros pertencentes à classe C cresceu em 20 milhões de pessoas. Assim, a classe C já representa hoje 46% da nação, nada menos que 86 milhões de brasileiros com renda média mensal de R$ 1.062.

O mais expressivo que vejo nisso é que esse salto, óbvio, ocorre das classe E e D para a C, uma ascensão social sem precedentes, em termos numéricos, na vida da nação brasileira. Esses bons frutos, como a própria pesquisa constatou, estão atrelados ao aumento do emprego, do crédito na praça, de menores preços para bens duráveis e, lógico, de programas sociais como o Bolsa Família que deixam milhares fora da linha da extrema pobreza.

Portanto, meus caros, vamos afastar de vez os pessimistas que falam em limitação do crédito, em refrear o consumo, aumentar os juros, cortar gastos sociais (que são investimentos) e têm pesadelo com a inflação. Essa mudança é apenas o começo. Temos um potencial econômico enorme e o cenário atual se mantém promissor mesmo diante da crise nos EUA. O próprio estudo aponta que “o bem-estar da sociedade brasileira passa por uma pequena revolução”, uma revolução silenciosa, mas representativa na busca por uma melhor distribuição de renda.

E, por medida de Justiça, vamos dar razão ao presidente Lula em uma de suas mais famosas frases, satirizada pela mídia: "nunca antes, na história deste país......" que eu completo destacando, houve um processo de inclusão social com a absorção de tantos milhões de pessoas.

fonte: http://www.zedirceu.com.br/

sexta-feira, 21 de março de 2008

Esquerda e direita

O Dom Quixote do sertão


Artigo de ARIANO SUASSUNA, escritor paraibano, autor de "O Auto da Compadecida"

Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita.

Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila.

Como conseqüência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.

Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande "assembléia geral" da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.

De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos "Atos dos Apóstolos", com o de Euclydes da Cunha em "Os Sertões". Escreve o primeiro: "Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade". Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: "A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia" (isto é, para a comunidade).

Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.

Publicado na Folha de São Paulo

O que é ser de Esquerda?



Por vezes nos supreendemos com definições que se encaixam perfeitamente naquilo que pensamos e falamos, e o texto abaixo é um deles.

“O que é ser de esquerda? (...) hoje em dia, a mais aceita nos meios de intelectuais e acadêmicos é de que ‘esquerdistas’ são os partidários da melhoria das condições de vida da maioria da população, enquanto ‘direitistas’ são os partidários da conservação dos privilégios das elites tradicionais. No entanto, acredito que ser de ‘esquerda’ vai muinto além disso. Vai muito além de uma definição acadêmica que pode ser difinida numa roda de intelectuais. Para mim, ser de ‘esquerda’ é amor. Amor ao próximo, ao distante, ao que nunca viu. Vai muito além de usar a camiseta do Che Guevara, escutar Geraldo Vandré, deixar a barba crescer. Ser de ‘esquerda’ é um estado de espírito. È a inquietude, o sino que toca nos corações dos mais velhos aos mais jovens clamando por uma melhoria nas condições de vida dos oprimidos. Mas principalmente ser de ‘esquerda’ significa vontade. É dar tudo de si em cada tarefa que executa para o bem do próximo, é se dedicar de corpo e alma à libertação do spovos, é sempre se perguntar se está fazendo o suficiente. È entender que a nossa história precisa de heróis e sem pestanejar habilitar-se para o cargo. È entender que sua vida não tem sentido outro senão o de fazer desta Terra a pátria do homem...

Por Thiago Ávila, publicado na Revista Caros Amigos, ano XI, número 121, Abril de 2007.

domingo, 16 de março de 2008

Viagem de formatura

por Rosely Sayão

Alguns internautas solicitaram abordar o tema das viagens de formatura. Apesar de, como observou uma leitora, eu já ter escrito sobre o assunto, vamos analisar sob outra perspectiva hoje.

Ante de tudo quero fazer um alerta aos pais e escolas: algumas – eu realmente não sei se algumas ou muitas – agências de turismo, que coordenam e organizam essas viagens, têm agido de modo nada adequado com os adolescentes. Algumas procuram saber quem são os alunos representantes ou líderes de sala e os aliciam – tanto no sentido de seduzir quanto no de oferecer suborno - para que façam o trabalho de convencer os colegas a querer o passeio.

Os recursos que elas oferecem são, pelo menos os que chegaram ao meu conhecimento: dar brindes de todos os tipos, oferecer a viagem de graça para quem consegue convencer certa quantidade de colegas a se inscreverem para a viagem, dar presentes e mordomias chamadas VIPs etc. Quando não dão esse passo, os agentes esperam os alunos na saída da aula e chegam com um discurso pra lá de persuasivo e sedutor. Vamos falar a verdade: fica bem difícil confiar filhos a agências que agem dessa maneira com os jovens, não é verdade?

Outra coisa: os monitores são muito jovens. Quase tão jovens quanto os próprios estudantes. Segundo um funcionário de uma das agências, isso é muito bom porque eles têm energia suficiente para acompanhar a moçada que adora virar a noite acordada. Com monitores tão novos os estudantes ficam bem à vontade e quase sem contenção alguma para seus impulsos e tentações.

Agora, vamos pensar na viagem em si como comemoração do fim de um ciclo. Festejar a finalização de uma etapa nos estudos é bem interessante, quase um rito de passagem: despedida de pessoas que conviveram por vários anos, confraternização com professores, comemoração com a família que tanto colaborou nesse trajeto etc. Mas a viagem não promove nada disso: é uma festa apenas para os colegas. Que, por sinal, vão para a viagem a fim de farrear. E só.

Sabemos que os ritos de passagem são cerimônias que ajudam no crescimento e amadurecimento de jovens que vencem etapas na vida porque apontam o que está por vir e facilitam a transição. As viagens, do modo como têm sido programadas, parece que colaboram para que os estudantes só vejam o que acabou e queiram se esbaldar nisso. Está mais para despedida de solteiro, que faz o homem desfrutar sem medida tudo o que está a renunciar, não é mesmo?

Creio que essas viagens só fazem sucesso porque nossa sociedade simplesmente aboliu os ritos de passagem tão úteis aos mais novos. Talvez seja este um bom momento para repensarmos nosso papel nessa questão.

Escrito por Rosely Sayão
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Livros on line no Domínio Público

O "Portal dominiopublico" coloca à disposição uma biblioteca virtual que está sendo uma referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral.

Constitui-se de um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal.

Veja aqui algumas obras que podem ser lidas ou impressas. Consegui no blog do prof Toni.

14 de Julho na Roça -Raul Pompéia
A Alma do Lázaro -José de Alencar
A Alma Encantadora das Ruas -João do Rio
A Brasileira de Prazins -Camilo Castelo Branco
A Carne -Júlio Ribeiro
A Carta de Pero Vaz de Caminha -Pero Vaz de Caminha
A Carta -Pero Vaz de Caminha
A Carteira -Machado de Assis
A Cartomante -Machado de Assis
A Causa Secreta -Machado de Assis
A chave -Machado de Assis
A Chinela Turca -Machado de Assis
A Cidade e as Serras -José Maria Eça de Queirós
A Comédia dos Erros -William Shakespeare
A Dama das Camélias -Alexandre Dumas Filho
A Desejada das Gentes -Machado de Assis
A Desobediência Civil -Henry David Thoreau
A Divina Comédia -Dante Alighieri
A Ela -Machado de Assis
A Escrava Isaura -Bernardo Guimarães
A Esfinge sem Segredo -Oscar Wilde
A Herança -Machado de Assis
A Igreja do Diabo -Machado de Assis
A Mão e a Luva -Machado de Assis
A Mão e a Luva -Machado de Assis
A Mão e a Luva -Machado de Assis
A Megera Domada -William Shakespeare
A melhor das noivas -Machado de Assis
A Mensageira das Violetas -Florbela Espanca
A Metamorfose -Franz Kafka
A Moreninha -Joaquim Manuel de Macedo
A Mulher de Preto -Machado de Assis
A 'Não-me-toques'! -Artur Azevedo
A Pianista -Machado de Assis
A Relíquia -José Maria Eça de Queirós
A Segunda Vida -Machado de Assis
A Sereníssima República -Machado de Assis
A Tempestade -William Shakespeare
A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca -William Shakespeare
A Vida Eterna -Machado de Assis
A Volta ao Mundo em 80 Dias -Júlio Verne
Adão e Eva -Machado de Assis
Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco
Anedota Pecuniária -Machado de Assis
Antes que Cases -Machado de Assis
Antônio e Cleópatra -William Shakespeare
Arte Poética -Aristóteles
As Alegres Senhoras de Windsor -William Shakespeare
As Primaveras -Casimiro de Abreu
As Vítimas-Algozes -Joaquim Manuel de Macedo
Astúcias de Marido -Machado de Assis
Aurora sem Dia -Machado de Assis
Auto da Barca do Inferno -Gil Vicente
Camões -Joaquim Nabuco
Cancioneiro -Fernando Pessoa
Catálogo de Autores Brasileiros com a Obra em Domínio Público -Fundação Biblioteca Nacional
Conto de Inverno -William Shakespeare
Contos -José Maria Eça de Queirós
Coriolano -William Shakespeare
Divina Comedia -Dante Alighieri
Do Livro do Desassossego -Fernando Pessoa
Dom Casmurro -Machado de Assis
Don Quixote -Miguel de Cervantes
Don Quixote. Vol. 1 -Miguel de Cervantes Saavedra
Édipo-Rei -Sófocles
Esaú e Jacó -Machado de Assis
Este mundo da injustiça globalizada -José Saramago
Eu -Augusto dos Anjos
Eu e Outras Poesias -Augusto dos Anjos
Fausto -Johann Wolfgang von Goethe
Ficções do interlúdio: para além do outro oceano de Coelho Pacheco. Fernando Pessoa
Helena -Machado de Assis
Iliada -Homero
Iracema -José de Alencar
Júlio César -William Shakespeare
Livro de Mágoas -Florbela Espanca
Livro do Desassossego -Fernando Pessoa
Macbeth -William Shakespeare
Medida Por Medida -William Shakespeare
Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis
Mensagem -Fernando Pessoa
Muito Barulho Por Nada -William Shakespeare
Noite na Taverna -Manuel Antônio Álvares de Azevedo
O Abolicionismo -Joaquim Nabuco
O Alienista -Machado de Assis
O Banqueiro Anarquista -Fernando Pessoa
O Cortiço -Aluísio de Azevedo
O Crime do Padre Amaro -José Maria Eça de Queirós
O Eu profundo e os outros Eus. -Fernando Pessoa
O Guarani -José de Alencar
O Guardador de Rebanhos -Fernando Pessoa
O Mercador de Veneza -William Shakespeare
O pastor amoroso -Fernando Pessoa
Obras Seletas -Rui Barbosa
Os Dois Cavalheiros de Verona -William Shakespeare
Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões
Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões
Os Maias -José Maria Eça de Queirós
Os Maias -José Maria Eça de Queirós
Os Sertões -Euclides da Cunha
Os Sertões -Euclides da Cunha
Otelo, O Mouro de Veneza -William Shakespeare
Pai Contra Mãe -Machado de Assis
Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
Poemas de Fernando Pessoa -Fernando Pessoa
Poemas de Ricardo Reis -Fernando Pessoa
Poemas em Inglês -Fernando Pessoa
Poemas Inconjuntos -Fernando Pessoa
Poemas Selecionados -Florbela Espanca
Poemas Traduzidos -Fernando Pessoa
Poesias Inéditas -Fernando Pessoa
Primeiro Fausto -Fernando Pessoa
Quincas Borba -Machado de Assis
Rei Lear -William Shakespeare
Ricardo III -William Shakespeare
Romeu e Julieta -William Shakespeare
Senhora -José de Alencar
Sonetos e Outros Poemas -Manuel Maria de Barbosa du Bocage
Sonetos -Luís Vaz de Camões
Sonho de Uma Noite de Verão -William Shakespeare
Tito Andrônico -William Shakespeare
Trabalhos de Amor Perdidos -William Shakespeare
Tudo Bem Quando Termina Bem -William Shakespeare

Rir para não chorar

André Lux

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Flores de cactos

por Miguel Nicolelis

Em sua coluna de estréia em CartaCapital , o cientista Miguel Nicolelis aponta que a região Nordeste tem tudo para virar a nossa Califórnia. Não poderia ser melhor e mais geográfica.

Para a maioria dos brasileiros, principalmente aqueles que vivem no Sul e Sudeste, qualquer menção ao sertão nordestino imediatamente evoca tradicionais imagens de destituição, miséria, abandono e atraso. Invariavelmente, essas amargas lembranças servem apenas para reforçar a opinião de que uma realidade tão implacável e inóspita jamais se renderá a qualquer política pública ou iniciativa privada que vise ao desenvolvimento da região. Assim, dentro desse estereótipo nacional, nada é capaz de prosperar diante do sol escaldante, o solo seco e os desolados jardins de cactos que dominam a paisagem da Caatinga.

Essa visão fatalista ignora que o sertão nordestino há séculos serve de palco para o desenrolar de um grande épico de sobrevivência, construído dia a dia pela ingenuidade natural e obstinação de todas as formas de vida que lá habitam. Formada por uma vegetação altamente adaptada à falta crônica de água, ornada por uma flora típica e própria, a Caatinga há muito deixou de ser considerada, ao menos em termos botânicos, como uma simples degeneração da Mata Atlântica. Na realidade, trata-se de um dos biomas mais especializados do mundo, parte integral e única do extraordinário patrimônio natural brasileiro.

Todavia, diferentemente da floresta amazônica, do Pantanal, e até mesmo do Cerrado, a Caatinga ainda não encontrou seu espaço próprio na consciência nacional, que vira-e-mexe prefere rejeitá-la, como se fosse uma filha a quem se nega paternidade, nome e pensão.

O fascínio que atrai milhares de brasileiros a visitar as inúmeras e exuberantes praias do Nordeste esvai-se em segundos quando o sertão é mencionado como uma nova provável fronteira de desenvolvimento que começa a se desenhar no horizonte futuro do País. Improvável, respondem de imediato os mais gentis e cautelosos. Impossível, bradam os chamados realistas. Inimaginável, decretam os fatalistas. O que pode crescer e prosperar nesses infindáveis e desolados jardins de cactos, perguntam todos em coro?

Durante uma viagem de alguns dias por muitos recantos extraordinários do interior da Paraíba e do Rio Grande do Norte, encontrei a resposta para esta pergunta. E ela não poderia ser mais singela e simples. São flores, muitas flores, que brotam desses jardins de cactos, outrora abandonados pelo ocaso predito, para colorir a paisagem desse sertão com matizes de esperança e sonho.

E é a partir dessas ainda frágeis florescências, tão inesperadas quanto belas, que desabrocha a concreta sensação, para quem o visita, de que o destino do Nordeste brasileiro, dado como natimorto inviável, pode se transformar numa inesperada fronteira de desenvolvimento e progresso, com repercussões significativas para todo o Brasil e o mundo. Em bom português, para quem tem olhos e quer ver, o Nordeste pode e tem tudo para se transformar na nossa Califórnia.

Os primeiros sinais do que está por vir podem ser obtidos no interior paraibano, nas primeiras plantações experimentais do pinhão-manso (Jatropha curcas), uma planta oleaginosa que cresce nos tabuleiros do sertão, muito bem adaptada à falta d’água crônica. Num futuro próximo, essa e outras culturas, valendo-se do casamento da moderna biotecnologia com uma nova agricultura do Semi-Árido, podem transformar as terras do sertão na maior usina de biocombustível do mundo. E, no processo, revolucionar o desenvolvimento econômico e social da região.

Exemplos como esse proliferam pelo sertão. Somado ao acesso à tecnologia, tem provocado mudanças no cotidiano dos habitantes. É como conta Gustavo, estudante de um vilarejo chamado Residência, no Rio Grande do Norte. Primeiro, diz ele, chegou a água, depois a eletricidade. Daí chegaram as antenas parabólicas e a televisão. Por isso, do Brasil ele sabe tudo e para tudo tem uma opinião. Dos problemas do tráfego aéreo à criminalidade das grandes cidades, Gustavo está a par da agenda nacional. Para o menino, o sertão está muito bom e só tende a melhorar. Assentindo em silêncio, procurei gravar cada detalhe daquela florada humana desabrochando, ali, no lugar onde poucos imaginaram que cacto também desse flor.


Clique aqui para saber um pouquinho mais sobre esse cientista brasileiro e aqui para saber um pouco do que ele pensa.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Cotas ameaçadas

A Justiça Federal suspendeu o sistema de cotas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo o juiz federal Gustavo Dias de Barcellos – atendendo a uma ação civil pública do Ministério Público Federal – as cotas ferem o princípio da igualdade.

Segundo matéria da “Folha”, 2.862 alunos foram classificados por notas, 819 por serem da rede pública e 323 por serem negros.

O juiz deu a liminar rebatendo o critério racial: “A ciência contemporânea aponta de forma unânime que o ser humano não é dividido em raças”.

Quais as lições a serem aprendidas dessa história.

Primeiro, que há um conceito fundamental em direito, de que não se podem tratar de forma igual os desiguais. Esse é o princípio básico da igualdade – não o de tratar todos de forma semelhante. Mas, por conta da ênfase racista nas cotas, criou-se o álibi para tentar derrubá-la na Justiça.

Tem que haver uma uniformização do discurso sobre cotas em cima dos ensinamentos e dos estudos da Unicamp.

A Universidade pesquisou seus alunos são constatou:

1. Os alunos da rede pública tem classificação pior nos vestibulares, por conta da diferença de formação com os da rede privada. Mas em pouco tempo tiram a diferença – porque têm mais garra, devido ao seu histórico de vida.

2. Por outro lado, não se pode tirar a meritocracia dos vestibulares – que são uma forma democrática de acesso à Universidade, desde que observadas as diferenças dos desiguais.

3. O correto, então, é estimar estatisticamente quantos pontos de vantagem seriam necessários para compensar a deficiência de formação da escola pública, sem comprometer o desenvolvimento do aluno depois de aprovado. Assim, os que vêm da escola pública ganham alguns pontos adicionais na hora de computar os resultados do vestibular.

4. Os alunos considerados negros recebem um adicionalzinho a mais, nada que interfira substancialmente no resultado.

Como conseqüência, aumentou bastante o número de alunos de escola pública que concorreram e passaram nos vestibulares da Unicamp. Simplesmente porque o anúncio das cotas lhes permitiu acreditar mais nas suas possibilidades de passar no vestibular.

Luis Nassif www.projetobr.com.br/web/blog/5