domingo, 18 de novembro de 2007

Por que Hugo Chávez incomoda tanto as elites?*

As transformações sociais em curso na América Latina, especialmente na Venezuela, estão incomodando os diversos grupos que sempre tiveram privilégios insustentáveis. São os mesmos que se apropriam das riquezas naturais e impõem à população um modelo de "desenvolvimento" que degrada de forma irreversível o meio ambiente e provoca o esgarçamento do tecido social, fazendo da sociedade palco de violência sem precedentes.

O medo destes grupos se agrava com a possibilidade concreta de a Venezuela passar a integrar o Mercosul. Por isso, fomenta-se no Brasil um processo de satanização de Hugo Chávez e da Revolução bolivariana. A mídia, o quarto poder, através da Revista Veja, da TV Globo e Cia, procura, de forma orquestrada, macular o processo de libertação ora em curso na Venezuela e na Bolívia. Tenta impedir a construção de uma outra forma de organização política fora da "democracia" liberal hegemônica, esta que pretende ser a vitória do capitalismo sobre o socialismo real, pós-esfacelamento do leste europeu e que teve a pretensão de determinar o "fim da história".

Estivemos em Caracas, na Venezuela, durante dez dias, no 6o Fórum Social Mundial. Mantemos comunicação com várias pessoas amigas de lá. Diante da enxurrada de calúnia que a mídia propala impiedosamente contra Hugo Chávez, cabe recordar várias coisas que estão acontecendo na Venezuela.

Um grande mutirão pela educação acabou com o analfabetismo naquele país. O povo controla e comercializa o petróleo, grande riqueza natural que agora serve para melhorar a vida das pessoas e não mais aumentar o lucro das multinacionais. O povo venezuelano está cheio de esperança. Uma juventude, em sua maioria esclarecida, está comprometida com a organização popular, com a construção de uma democracia verdadeiramente participativa.

As críticas internas a Hugo Chávez vêm dos canais de TV que estão nas mãos das elites e da minoria privilegiada. A população pobre é beneficiada com preços de 30 a 50% mais baixos do que nos mercados privados nos milhares de Mercados Populares - MERCAL - que alimentam a maioria da população.
Os estudantes que lideram os movimentos por "liberdade" são os de classe média alta, defensores dos ideais de liberdade como privilégio para poucos, mesmo quando o sistema que mantém essa chamada "liberdade" condena à miséria e à exclusão a maioria da população.

Na Venezuela bolivariana, todos os estudantes que cursam universidades públicas, ou que ganham bolsas de estudos, diferentemente do que acontece no Brasil, prestam serviço social à comunidade. Dão uma contrapartida para a sociedade em vista dos recursos públicos que recebem para estudar. Só na Universidade Bolivariana mais de 500 mil jovens pobres estão estudando.

O governo de Hugo Chávez apóia a instalação, regulamentação e funcionamento de rádios comunitárias. Não há burocracia para conseguir a documentação e o governo ajuda financeiramente na compra dos equipamentos para se fortalecer a comunicação alternativa e mais interativa. Assim, não procedem as alegações de que não há liberdade de imprensa na Venezuela. O governo venezuelano não tem o monopólio da informação.
Contrariamente investe contra o monopólio dos meios de comunicação, como o que ocorre hoje no Brasil, onde poucas famílias controlam o sistema de informação de massa.

Na Venezuela, atualmente, existem mais de 20 mil médicos cubanos, que, com apenas uma ajuda de custo cerca um salário-mínimo, estão alavancando uma revolução no sistema público de saúde. São responsáveis pelo atendimento primário da população, algo parecido com o médico de família. Estão nas favelas e bairros pobres; lá vivem e atendem, com competência e dedicação, os pobres. "Por mais de 50 anos os médicos venezuelanos recém formados se recusaram a ir para o interior, para os bairros, para a periferia. Só queriam ficar na capital, ganhar dinheiro às custas da dor. Agora, com Chávez, eles tiveram sua chance de ajudar o povo. Não quiseram. Então foi preciso apelar para a solidariedade. Vieram os médicos de Cuba e estamos tendo acesso à saúde nos lugares mais distantes e pobres", informa um jovem da periferia de Caracas.

Yojin Ramones, um venezuelano que vive no Brasil, referenda nossa percepção, revelando que na Venezuela há uma recuperação acelerada da atividade econômica, melhorando o poder aquisitivo de todos. Isso mesmo, de todos - os venezuelanos, ricos e pobres (antes eram apenas os ricos). O país tem anualmente o crescimento do PIB (Produto Interno bruto) mais elevado da América Latina, cerca de 10% nos últimos anos. Lá são convocados referendos sobre os temas mais importantes do país, de modo que o povo opine e escolha o que quiser. Os abusos dos bancos foram freados pelo governo. Por exemplo, a taxa de juro anual de um cartão de crédito é de 28% a.a. Aqui no Brasil é acima de 120% a.a.

Não há país da América latina que tenha feito tantas obras - como metrôs, pontes, teleférico, aeroportos - em apenas oito anos. Os serviços de saúde devolveram a vista a milhares de pessoas carentes de recursos, não só venezuelanos, mas latino-americanos. Pela primeira vez, muitos bairros pobres têm um médico para dar atenção às pessoas. A integração da América do Sul é prioridade para o fortalecimento de nossas raízes e forças latino-americanas.

Quanto à democracia é importante lembrar que o Hugo Chávez, assim como os partidos políticos que o apóiam, venceu todas as eleições que foram supervisionadas por organismos internacionais e políticos de todo o mundo, inclusive um ex-presidente norte-americano (JIMMY CARTER). Todos atestaram a lisura dos pleitos.

Importante acrescentar que as eleições ocorreram com a grande maioria dos meios de comunicação (jornais, rádios e TV) em franca campanha de difamação contra o governo de Hugo Chávez. Em qualquer parte do mundo, os responsáveis pelas emissoras de rádio e TV, teriam sua concessão cassada, e em alguns países seriam processados por calúnia e difamação, como, por exemplo, nos EUA e na França.

A reforma da Constituição, ora em curso, faz parte de um processo de mudança estrutural radical, que pode transformar a Venezuela em uma sociedade sem miséria, sem exploração e sem exploração, fundada na solidariedade e não na competição, no egoísmo e na ganância.

Para além dos mecanismos de democracia representativa, o povo da Venezuela tem mostrado uma grande capacidade de mobilização e participação, construindo uma democracia participativa que legitima as transformações em curso.

Nós devemos ficar sempre atentos para que o caminho democrático participativo construído na América latina hoje não seja desviado por projetos pessoais. Toda mudança só é legitima se construída democraticamente pelo povo.

Nesta esteira é que temos de defender aguerridamente os povos e os projetos transformadores de Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador. Primeiro, porque sãos povos que estão em processo de libertação, lutam com destemor contra o imperialismo e a opressão capitalista neoliberal. Segundo, porque se estes países forem sufocados, teremos que viver mais tempo com os valores da indiferença pelo ser humano que hoje domina as sociedades e ameaça o planeta.

Belo Horizonte, 14/11/2007.

Adital -
*Por:- Frei Gilvander Luís Moreira, mestre em Exegese Bíblica e assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br- Delze dos Santos Laureano, professora de Direito Constitucional e Direito Agrário, membro da RENAP - Rede Nacional de Advogados Populares, e-mail: delzesantos@hotmail.com - Dr. José Luiz Quadros de Magalhães, professor de Direito Constitucional da UFMG,e-mail: ceede@uol.com.br

Frei Pilato Pereira: "Chaves, não se cale!"

A simbólica frase do rei da Espanha dirigida a Hugo Chávez, é para todos os povos da América Latina. Nossos opressores não perderam a arrogância, não reconhecem plenamente nossa liberdade e soberania. Ainda guardam, em seu ímpeto, o desejo de nos governar. Por isso, é bom que Chávez não se cale.

por Frei Pilato Pereira*

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não apenas por ideologia, mas também pelo estilo de ser, agrada alguns e desagrada a outros. Até mesmo quem comunga com seus ideais pode não gostar de seu modo falador, por exemplo, que o coloca sempre em evidência. Mas, muitos gostam de seu estilo falante, às vezes debochado. Outros, porém, apreciam apenas de seus ideais e existe também quem o repudia por completo. Falar exageradamente muito, é uma característica do Presidente Chávez, é seu jeito de ser.

E quem fala muito, mesmo que sejam palavras sérias e importantes, pode provocar desconforto e chatice. Enfim esta é uma questão pessoal do Hugo Chávez, ele gosta de falar e não perde tempo. Mas não foi por isso que o Rei da Espanha, Juan Carlos, o mandou calar a boca durante a última reunião da Cúpula Ibero-Americana, em Santiago do Chile, quando fazia algumas críticas ao ex-primeiro-ministro espanhol. Por traz do fato ocorrido existe algo mais. Ora, o rei da Espanha mandar calar a boca de um presidente eleito pelo povo de um país que foi sua colônia, mas que conquistou a liberdade e que agora é uma nação livre e soberana. O que significa isso?

Quase todo este vasto continente era colônia da Espanha e tudo estaria sob o jugo do rei espanhol. Em tempos idos, ele poderia mandar calar boca de quem quer que fosse. Mas agora, as coisas mudaram. O rei só tem prestígio, mas pensa que tem poder absoluto. O rei da Espanha ainda não aprendeu a se comportar de acordo com os acontecimentos da história. Ele não é mais o imperador da América Latina. Não há mais colônia espanhola por essas bandas. Ora o rei esqueceu que deste povo latino americano nasceram José Martí, Simon Bolívar, Che Guevara e outros compatriotas da Pátria Grande que encorajaram o povo a querer e lutar pela liberdade e não aceitar mais a opressão.

As terras de muitos povos indígenas aqui existentes foram invadidas por opressores europeus que foram terrivelmente cruéis, assassinos e não tiveram piedade de nada nem de ninguém. Dizimaram povos e soterram cidades, empreendimentos e organizações. Mas, desta terra latino-americana brotaram vozes de vida e liberdade que vem mudando os rumos da nossa história. Passaram 500 anos de "cale a boca". Mas tem gente que não aceita isto. O fato do rei da Espanha mandar que se cale a boca de Hugo Chávez, presidente eleito democraticamente pelo povo da Venezuela, deve ser bem refletido por todos nós, latino-americanos.

Este episódio demonstra que eles ainda têm vontade de nos mandar calar a boca. Vamos ficar atentos. Dizem que o rei é uma figura simbólica, pois o poder político pertence ao primeiro-ministro. Pode também ser simbólica a palavra do rei. Tal simbologia representa a gana de nos calar. A simbólica frase do rei da Espanha dirigida a Hugo Chávez, é para todos os povos da América Latina. Nossos opressores não perderam a arrogância, não reconhecem plenamente nossa liberdade e soberania. Ainda guardam, em seu ímpeto, o desejo de nos governar. Por isso, é bom que Chávez não se cale. Ou o rei da Espanha e outros vão ter que ouvir os gritos das pedras.

Frei Pilato Pereira é frade capuchinho.