segunda-feira, 23 de julho de 2007


A pressa de linchar

Quem tem um mínimo de sagacidade pôde perceber, quando o ataque fulminante da mídia ao governo Lula foi desfechado já no primeiríssimo momento pós-desastre com o avião da TAM, que a idéia era a de inundar a opinião pública com manifestações de indignação anti-Lula e acusações sobre ser ele o responsável por "mais uma tragédia aérea". Sabendo que, passado o choque, laudos começariam a ser publicados e a discussão sairia do emocional e passaria ao racional, a mídia e a oposição tucano-pefelista precisavam causar ao presidente o maior dano político no menor espaço de tempo possível. Depois, quando os fatos fossem analisados e se descobrisse causas para mais este acidente que nada teriam que ver com o governo, essas causas seriam noticiadas com pouco destaque, o que deixaria na cabeça de muita gente a primeira informação, apesar de ser falsa.

Nas próximas semanas, causas nunca abordadas para o acidente do último dia 17 em São Paulo virão à tona e poderão - eu disse "poderão" - isentar de qualquer responsabilidade as autoridades responsáveis pelo controle do tráfego aéreo e pela estrutura aeroportuária deste país, bem como o governo Lula e seu titular. Se assim for, deveremos nos lembrar do que foi feito pela mídia com o desastre do avião da Gol em outubro do ano passado. Acusaram Lula peremptoriamente em centenas de manchetes, editoriais, artigos, cartas de leitores, telejornais etc. em pleno processo eleitoral. Meses e meses depois, Lula já eleito, todos os laudos técnicos apontavam que os responsáveis pela tragédia tinham sido os pilotos americanos, pois tinham desligado sistemas de segurança do jatinho que pilotavam que teriam impedido a colisão com o Boeing da Gol.

Agora vejam bem: há meses vinha predominando intensa propaganda pela mídia culpando o governo. Assim, seria necessário muito espaço para a verdade sobre o desastre para que fosse desfeito o mal que se pretendeu.

Mas, tanto no desastre passado quanto no que acaba de ocorrer, deve-se usar critério parecido para mensurar a efetividade da estratégia midiática. O critério é o do que ocorreu, em termos de prejuízo à imagem de Lula, por conta do noticiário falsamente acusatório contra ele, de que seria responsável pelos 154 mortos no desastre com o avião da Gol. Resultado: Lula ganhou a eleição disparado mesmo estando no auge a campanha difamatória. Ou seja: a maioria absoluta da sociedade brasileira não deu a menor pelota para a teoria de que Lula seria o responsável por desgraça como aquela. Assim, mesmo sendo impossível dar a notícia verdadeira sobre a causa do desastre com o avião da TAM a cada um dos que foram desinformados pela mídia, devido ao tratamento que ela dará ao fato real, que será bem inferior ao que dera à sua versão, jamais esse objetivo será alcançado. Todavia, a experiência anterior com ataque da mídia dessa natureza mostra que sua eficácia esteve entre péssima e sofrível.

De uma forma ou de outra, seria bom que cada um fosse organizando a própria técnica de apresentação dos fatos quando a verdade surgir, a fim de fazermos nossa parte e tentarmos informar os que foram desinformados, mesmo que não tenham acreditado na desinformação de que foram alvo. Pretendo contribuir para subsidiá-los com o que deve ser contraposto às mentiras que foram alardeadas, quando os fatos se esclarecerem.( Escrito por Eduardo Guimarães) edu.guim.blog.uol.com.br/